(fragmento final)
Dona Magnólia de Araújo,
sinto-me solidário com o teu ofício de badameira.
A tua arte e sabedoria
de sobreviver à custa do lixo
dão-me força para continuar,
solitário, à cata de palavras que
quisera fartas, purificadoras e anunciadoras
dum porvir de
mel
luzes
boas merluzas e dignidades para todos.
- Uma farta e perene Ceia, Dona Magnólia!
(Cadernos Negros, 29)
A sanha dos opressores de plantão
não pôde calar o teu verbo.
Foste sempre o dono da bola
desde que saíste de Pelotas
para encher de fantasia
tanto o torcedor da geral como o intelectual.
Este poema que queria redondo
vai aqui com versos quebrados
branco querido, que soube como ninguém
traduzir a arte dos pés negros
e elevá-la ao Olimpo dos mais humildes.
Caro poeta da oralidade
pelas ondas do rádio, o esporte bretão
invadiu a área do nosso coração
com o vigor e a sabedoria de sua arte de comentar
homens e bola em apenas quatro linhas.
(Cadernos Negros, 29)
Não chorem por Oliveira. Os escritores não morrem... assim disse o velho militante Jônatas Conceição em homenagem ao poeta Oliveira Silveira, na edição nº 24 do jornal Irohin.
A mensagem deixada por Jônatas não cessa a tristeza diante de nossa irreparável perda, entretanto, contribui para as lutas de todos os afrobrasileiros. Sua caminhada de militante, poeta, professor e diretor do bloco Ilê Aiyê não termina no dia 02/04/2009 porque a sua escrita há de ser perene. Para além dos Quilombos Contemporâneos dos quais participou, pode ser pensada a sua vivência de afrobrasileiro.
Quem o conheceu sabe que fez de suas marcas caminhos um Quilombo de palavras: afrodescendência, Literatura Negra, Movimento Negro, são alguns vocábulos constantes no seu discurso. No mesmo perfil de força, calma e doçura integram o jeito tranqüilo daquele a quem disse ser “poeta da memória”.
Para Jônatas, a sua geração de 1970 é significativa no processo de construção de uma sociedade mais democrática para os afro-brasileiros.
Um comentário:
Esse último um ano e meio tem sido de muitas perdas para o movimento negro brasileiro: Luiz Orlando (Salvador), Oliveria Silveira (Porto Alegre), Penha (São Paulo), Neusa Santos (Rio de Janeiro) e agora Jônatas Conceição (Salvador). O conheci muito rapidamente em 2001 durante um SBPC ocorrido em Salvador, mas sei de sua importância histórica dentro do movimento negro.
Que nosso brother descanse em paz agora que adentrou o panteão dos militantes afro-brasileiros que se foram!
Muita paz!
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