quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

ESCRITOS, BLOGS E REDES

Alegria extrema, grande contentamento, regozijo. Essas são algumas definições para júbilo: o sentimento de mundo que me toma agora quando penso na escrita, nos textos, na minha voz, nas imagens por mim feitas, nas visões muito particulares de mundo que desde 14 de outubro de 2008 tenho compartilhado com amigos próximos e distantes, recentes e de longa data.

Medrosa como sou, temia expor demais minha alma em contradição aqui neste espaço. Na verdade, nem imaginava que o fato de ter um blog me levaria a escrever baboseiras com tanto prazer. E que esta escrita viria livre, sem amarras de qualquer ordem, só respeitando mesmo o íntimo ritmo do que me toma por dentro. Uma transformação começou a se dar sem que eu nem sentisse desde que comecei a usar mais esse meio de comunicação aqui.

De repente me vi pensando em textos próprios para blog. Sentia, observava alguma coisa que profundamente tinha me tocado e pensava na hora, "tenho que escrever isso lá em SOULSISTA". Acontecimentos, fatos vividos ou conhecidos aqui, só aqueles que me subjugam, impondo-se a mim. Non-sense. Escrever sobre ninharias de nada, isso muito me interessa, porque, quase sempre, o pequeno, o ordinário, o de sempre guarda uma profundidade que nosso olhar superficial nos impede, por algum motivo, de ver. Engraçado! Essas reflexões estão vindo aqui agora, sem muito pensamento prévio, elas vêm quando tento buscar o que tem me movido a fazer postagens, quase que semanais, aqui!

Em três meses e pouquinhos dias, passaram por aqui a linda memória de meu avô, textos melosamente sentimentais, reflexões sobre os nadas de sempre, alegrias, sonhos, mundos inventados, tristeza, blues, morte em vida e vida em morte. Enfim, tantos diferentes assuntos, mas que podem ser lidos todos como um grande texto só. Às vezes acho que essa tendência para repetição que tenho desde pequenininha (quando criança escutava mil vezes o disco da história da "Formiguinha e a neve" e sempre chorava no mesmo ponto do enredo, quase no final; hoje, infernizo a vida de familiares e vizinhos escutando até cansar a mesma música, sentindo em todas as execuções, quase sempre, o mesmo prazer - IMPRESSIONANTE!!!!) acabou se estendendo para cá, porque, quando releio as postagens, tenho a impressão de, por perspectivas diferentes, estar sempre falando a mesma coisa.

Se a escrita, a minha voz aqui tem um sido um bálsamo medicinal para a alma, espero em 2009 conhecer muito mais pessoas através deste democrático espaço e estreitar cada vez mais os laços com velhos conhecidos do mundo virtual ou real mesmo. Desejo, nesta celebração que aqui comungo com vocês em forma de palavras, um 2009 de muita utopia. Que possamos olhar as estrelas, namorar a lua e ver sempre no infinito céu noturno inúmeras possibilidades de vida, pontos de luz e caminhos. Sigamos agora o ritmo de Oxóssi, guerreiro das matas, esse deus afro-hippie que, de alguma forma, habita todos nós. O ano é dele! PAZ, AMOR E MUITO BOA MÚSICA A TODOS!!!!

Aliás, como achei que faltou música aqui, não poderia fechar o ano, sem colocar pelo menos um sonzinho que gosto. Essa londrina selvagem tem incendiado minha alma ultimamente (os coitados dos meus vizinhos bem sabem). Mas em "Tears dry on their own", uma interessante letra que fala sobre a dor de ser deixada ou rejeitada por um homem, fazendo com que avassaladoras lágrimas sequem por elas mesmas, toma corpo com uma melodia que, em parte, é a incorporação de uma batida de "Ain't no mountain high enough", cantada em fins de 60 por Marvin Gaye e Tammi Terrell, e, em outra parte, é uma genial recriação do clima Motown. Com o enérgico e lindo som de Amy, nos despedimos de 2008 e inauguramos novos tempos no ciclo que há de vir...





Poster "Jubilo" de Keith Mallet

domingo, 21 de dezembro de 2008

ELA SE DEIXOU IR... ME DEIXEM CHORAR

Hoje eu não consigo pensar, refletir, entabular idéias. Todo o meu corpo dói... Por favor, me deixem chorar! Mais um corpo de negra afro-africana se autodestrói e eu, em extensão, fragmento-me em mil megatons...

Há pessoas que só com uma obra já fundam mundos tão intensos que não precisam fazer mais nada em suas trajetórias por aqui. Converso com amigos e eles falam a mesma coisa: há músicos, cantores, intépretes, atores, intelectuais que só com uma obra, uma produção, um pensamento, uma interpretação já prestaram um grande serviço à humanidade. Daí podem descansar... Mas o mais louco é que justamente essas pessoas não descansam. Vivem vigorasamente até o fim. Até mesmo quando escolhem o dia e hora do fim de seus corpos, vivem em vigor!

Pois então, Neusa Santos Souza, ao produzir o importantíssimo estudo de caso "TORNAR-SE NEGRO ou as vicissitudes da identidade do negro em ascensão social" transformou-se em um desses seres. Um estudo quase todo descritivo de trajetórias de afro-brasileiros em angústia. Seres humanos em conflito, cujas "nóias" aparecem explicitamente como sintomas de uma doença maior - o racismo. Nossos corpos e pensamentos como sintoma, sintoma de uma história que, aqui, tem teimado em ficar invisível.

Dentro desse processo, a leitora se depara e se identifica com os paradoxais mundos afetivos ali expostos, em doentia dúvida quanto aos valores ou papéis de seus corpos. Por isso, a pesquisa acabou por demonstrar quanto o processo de tornar-se negro é doloroso e, muitas vezes, impossível de ser feito por muitas e muitos afro-descendentes, nesta terra dos tropicalismos, dos mulatismos e das democracias raciais em voga. Tudo isso foi produzido por ela, num momento de quase total fechamento do mundo acadêmico brasileiro para o afro-brasileiro tomar-se a si próprio como objeto de pesquisa (o pleonasmo aqui é ênfase trágica mesmo, apontando a voz de um grupo ainda hoje impedido, em muitos departamentos acadêmicos brasileiros, de desenvolver projetos que abordem questões que o afetem mais de perto).

Não consigo passar daí em termos da tentativa de compreender por que mais um corpo negro escolhe despregar-se de si. Hoje não é definitivamente dia pra isso! Agora, só o estarrecimento, as lágrimas, o espanto e a dor ao tomar conhecimento de que Neusa escolheu ir, espatifando-se em um asfalto ou calçada qualquer. Meu corpo, aqui protegido diante desta tela de computador, dói inteirinho, meus ossos triturados. Despedaçada em mil e um pedacinhos de sangue!

Para Neusa, hoje, dia de seu sepultamento, depois do precoce fim por ela mesma escolhido, desejo um punhado de belas flores. Dedico-lhe um ramo de enormes girassóis amarelíssimos, pela coragem de uma vida inteira, até o momento final da explosão de si!

Poster Girasoles de Keith Mallet

Until the philosophy which hold one race
Superior and another inferior
is finally and permanently discredited and abandoned
Everywhere is war, me say war.
Bob Marley


Da série BLUES

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

E EU QUERIA FALAR COM A LUA

Hoje, no fim da tarde, bem daqui de casa mesmo, eu namorei a lua. Ela, bola cheia de luz e sombra, olhando pra mim e eu deslumbrada com aquela beleza de se seguir.

Fiquei meditando... por que exerce tanto poder sobre os humanos e sobre o que naturalmente nos constitui? Seu amor é de doação, é de seguimento, é amor pra sempre, já que nunca se livra do próprio destino de ligar-se a Terra, nossa casa. A Terra, eu sei, também se aproveita bem, seja nos caminhos das águas, suas cheias e vazantes, ou no olhar hipnótico em direção à beleza absoluta da lua. A Terra não pára de olhar pra Lua. Amantes... Inebriadas de si, não se largam nunca.


Aproveitei o namoro e, óbvio, fiz dois pedidos: o primeiro é pra que se expanda, de
fato, a alegria na Terra; o segundo eu não conto, é secreto. Só digo que foi um pedido de amor, de calor, de silêncio e mar, de estranha dor.

Hoje bem ao anoitecer, naquele horário em que sinto um aperto tênue no coração, misto de melancolia e transbordamento de amor, eu namorei a lua. Ela, tava toda toda... E disse sim. Dindinha nossa, garantiu certeza na realização de um dos dois desejos...


"E eu queria falar da lua
Mas não sou silenciosa e plena de luz
Como só ela sabe ser"
Beatriz Nascimento

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

IMPERDÍVEL ESSA TEMPORADA DO BANDO NO RIO, PRINCIPALMENTE O SENSÍVEL E INTELIGENTE ESPETÁCULO ÁFRICAS PARA OS QUE TÊM CRIANÇAS. NÃO DEIXEM DE IR!!! SOULSISTA