sexta-feira, 30 de abril de 2010

Menina manhosa, menina medrosa


Não é que me assusto com tudo! Tenho medo de barata, de escuro, de gente me olhando, de gente que não me olha no olho. Tenho medo de falar (principalmente inglês), tenho medo de ficar calada. Tenho medo de ir e também de ficar parada. Tenho medo de homem bonito, tenho medo de homem inteligente. Tenho medo de me apaixonar, tenho medo de me desapaixonar de uma paixão já gasta. Quero a barra da saia da minha mãe pra me esconder!

Tanto medo assim, fez uma amiga, numa madrugada insone, lembrar que eu, na certa, precisaria de umas palmadas como a menina manhosa de Cecília. Dispenso as palmadas e fico com o lindo poema brincalhão de Meireles! Através dele, retomo uma infância indecisa no "Ou Isto ou Aquilo", que já prenunciava as complicadas escolhas por vir de uma menininha manhosa e assustadinha.

Uma palmada bem dada

É a menina manhosa
que não gosta da rosa,
que não quer a borboleta
porque é amarela e preta,
que não quer maçã nem pêra
porque tem gosto de cera,
que não toma leite,
porque lhe parece azeite,
que mingau não toma,
porque é mesmo goma,
que não almoça nem janta
porque cansa a garganta,
que tem medo do gato,
e também do rato,
e também do cão
e também do ladrão,
que não calça meia
porque dentro tem areia,
que não toma banho frio
porque sente arrepio,
que não toma banho quente
porque calor sente,
que a unha não corta,
porque sempre fica torta,
que não escova os dentes,
porque ficam dormentes,
que não quer dormir cedo,
porque sente imenso medo;
que também tarde não dorme,
porque sente um medo enorme,
que não quer festa nem beijo
nem doce nem queijo...
Ó menina levada,
Quer uma palmada?
Uma palmada bem dada
Para quem não quer nada!

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Um nega MACnada, eu?


Contar sobre a minha nova aquisiçao pode ser um bom momento de falar, para os que ainda nao sabem, que ha quase dois meses estou nos EUA, a terra amada e odiada por tantos brasileiros diferentes. Passo alguns meses estudando e conhecendo um pouco melhor essa estranha cultura. Aproveito tambem para mandar noticias a amigos e familiares que querem saber um pouco o que tenho passado aqui. O texto ficou enoooooormeeee, mas os detalhes sao essenciais, voces vao entender. Quem tiver tempo e folego para ler ate o final, aventure-se!

Estrangeira que sou, sinto-me confortavel em nao ser daqui. Pra mim, ser estrangeira e, de alguma forma, olhar tudo com olhos de novo. Isso nao deixa de ser, apesar dos perrengues cotidianos, um certo privilegio. Nao estar numa posicao confortavel com a lingua me coloca ainda mais na esquina disso tudo aqui. Olhar de esguelha, no canto da rua e uma paranoia delirante que definitivamente me atrai.

Interessante que aqui estou vivenciando o que so sabia teoricamente: por que tantas teorias linguisticas importantes sao norte-americanas, sobretudo as relacionadas a variaçao linguistica. Para o americano mesmo, qualquer “ accent” e motivo de discriminaçao, digo separaçao em diferentes grupos mesmo. Cada um na sua e todo mundo vai vivendo seu mundinho limitado. Mais ou menos assim. Nem falo pelo meu ingles tatibitati, mas vejo alguns amigos com um certo sofrimento por ficarem relegados ao mundo dos estrangeiros na vida cotidiana, porque nao falam o ingles norte-americano. Mas qual e esse ingles? Ainda nao sei. Vejo tantos nos diferentes lugares onde vou. Agora, que ha um Standard English, dos que foram “bem” criados aqui, isso e fato.

A minha nova aquisiçao tem inclusive tudo a ver com esse “American way”. Comprei um computador americano demais. Inclusive a falta de acentos nesse texto, tem a ver com um sistema que nao da a minima para as outras linguas que existem no mundo. O teclado e igual a qualquer outro, mas saber como usar um mero acento agudo ou um til e tarefa so para Mr Mac, meu amigo cujo nome prefiro preservar, mas que muito antes da tragedia que me aconteceu ha duas semanas atras, ja mandava eu trocar minha lata velha por um computador mais estavel, e mole?

O cedilha eu aprendi depois de algumas tentativas, mesmo assim ele vem acompanhado de uma letra estranha que eu preciso deletar sempre. Vou mostrar pra voces: quando escrevo “caçador”, aperto simultaneamente tres teclas, mas quando aperto, a palavra vem acompanhada de um caractere estranho que eu preciso apagar para palavra fazer sentido pra gente. Deem uma olhada: “caçædor”. Digam se e possivel eu deixar esse estranho “a” com “e” assim bem juntinho? Se alguem souber o nome desse caractere, pode me dizer, porque nao faço a minima ideia.

Entao, ha duas semanas estava eu feliz trocando informaçoes familiares confidenciais com minha irmazinha Adri, quando deu um apagao no meu computador. Confesso que isso ja tinha acontecido antes, mas sempre conseguia religa-lo. Dessa vez nao. Apagou geral. Pensei: po, dessa vez o virus me pegou mesmo.

Levei meu amado HP pretinho comprado ha exatos 2 anos atras aqui nesta mesma terra a uma pequena loja perto da minha casa que sempre via quando ia para o ponto de onibus. Tinha uma placa na porta, “Yes, We are open”, mas estava tudo fechado. Conversei com a dona da loja ao lado, que acabou ligando para Juan e falando num espanhol bem afetivo que tinha uma linda brasileira (palavras dela, gente!rs) com um computador quebrado. Juan falou comigo e disse que so ia abrir a loja as duas horas da tarde. Como tinha que ir a universidade, marquei com ele no final da noite.

As 20:30 em ponto, estava eu de volta a loja de Juan. Como so vi desktops, perguntei: “voce conserta laptop?” Ele, respondeu bem alto com uma certa impaciencia: “OF COURSE!” “Entao, Sr. Juan, meu computador apagou. Acho que e virus, porque isso tem acontecido desde que comecei a usar a rede aberta da universidade.” Ele começou a desmontar o computador todo, passar um aspirador dentro, trocar peças. E eu quase pegando de volta meu pretinho, com medo de nunca mais ve-lo como ele sempre foi. Mas como sempre diz uma grande amiga: nao adianta ter medo, nao adianta ter medo, o que tem que ser e.


Tai o pretinho que morreu!


Sr. Juan, depois de muito testar, disse que o problema nao era virus nada, mas a minha “mother board” que tinha pifado. Me pediu dois dias pra confirmar e me dizer o valor do conserto. Achei justo, mas fiquei meio chocada pelo problema ser tao serio. Gente, achava meu computador novo. Dois anos de uso so. Sai da loja assim tao tristinha, que liguei para Mr. Mac pra ver se ele me dava uma força, depois de eu ter perdido de maneira tao tragica meu pretinho basico. Mr. Mac, ironico como sempre: “eu falei, nega, eu falei... Seu computador tava na capinha.” O que me restava entao? Ir pra cama chorar baixinho.

Exatos dois dias depois, Juan liga dando o diagnostico completo: precisaria mesmo trocar a placa mae e o conserto ficaria em 275 dolares. So que ele ia demorar 8 dias pra me devolver o computador. Fiquei literalmente louca, pedi pressa. Ele disse que ia se esforçar, que assim que tivesse com a peça na mao me telefonaria. Dois dias depois ele ligou mesmo, com voz de preocupaçao, pedindo que eu fosse urgentemente a loja.

Chegando la, o cenario estava armado. Sr. Juan, coitado, nao sabia o que e lidar com uma mulher brasileira, diriamos assim, nervosinha. Em cima do balcao estava o meu computador e uma placa mae enrolada num plastico aberto em cima dele. Sr. Juan: “aqui esta a mother board que eu pedi. Eles enviaram errado, ta vendo? E da marca Intel e a sua e AMD.” “E agora Sr. Juan? A troca vai demorar muito?” “Infelizmente, a placa AMD esta em falta. Nao tem previsao, mas eu posso resolver o seu problema: tenho aqui computadores muito melhores que o seu. Voce escolhe, compra um e eu passo todos os seus dados para o computador novo. Venha ver.” Vi, a principio fiquei ate interessada em um deles. Mas foi quando percebi o trambique. Sr Juan falou feliz: “ele custa 400 dolares.” “ Nao Sr. Juan, nao. O senhor nao esta entendendo a minha situaçao. Vou levar o meu computador entao.” Ao abrir meu computador, tudo piorou muito, porque ele estava todo arranhado, com os selos arrancados. Nossa, me desesperei e pela primeira vez dei uma bronca em alguem com meu ingles tatibitati mesmo. Exigi a devoluçao sem os arranhoes, porque nao entreguei o computador assim. Sr. Juan exaltado, misturando ingles com castelhano, a dizer que os arranhoes eram normais, porque ele precisou abrir o computador. E eu gritando: “mas pra abrir um computador nao e preciso arranhar desse jeito e tirar os selos. So lembro que dizia: “I am studying here. I am not kidding” E Juan rebatia: “And am I kidding?” “I don't know, Mr. Juan, I don't know.”

Depois de alguma discussao, ele falou pra eu sentar e esperar que ele ia me entregar o computador sem nenhum arranhao. Deve ter trocado a carcaça do meu pretinho por outras acumuladas naquela "tiendita", sei la. So sei que voltei pra casa abracada a ele, assim protegendo-o do mal ja feito.

No dia seguinte, levei-o no “computer care service” da universidade. La o rapaz foi dizendo bem tranquilamente, sem o tom exaltado do crapula do Sr. Juan: “o seu computador morreu. Isso e muito comum de acontecer com esta linha. Nao vale a pena consertar porque o conserto vai ser caro e ele vai ter uma vida curta. Mas voce comprando outro, eu coloco seus arquivos num novo “hard disk” e voce tera acesso a todos eles.” Na hora lembrei do meu limite do cartao de credito e fui logo perguntando: “se for um MacBook, tambem ficarao disponiveis?” “Sim, sim.” Bingo, a profecia de Mr. Mac estava se realizando.

Fui pesquisar o que eram os MacBooks, porque, na verdade, nunca soube direito a diferenca entre um e outro. Nem nunca soube quantos modelos ao certo existiam. Enfim, sempre achei lindo aquele computador com uma maça assim bem no meio, mas nunca levei muito a serio essa superioridade toda dele nao. A linha de laptops e bem pequena, nao falo dos novissimos Ipads, porque nem faco ideia do que seja aquela inovaçao toda. E tambem gosto de teclas. Aquela tela inteira que faz tudo me da assim uma especie de afliçao. So ha, na verdade, 3 modelos de laptops: o MacBook (o mais barato da linha, mas nao se iludam, e caro) o MacBook air (o computador mais fino do mundo, pra que isso, gente, pra que?) e o MacBookPro (em tres versoes de tela, a menorzinha delas, de 13” e 200 dolares mais cara que o MacBook e, segundo Mr. Mac e todos os vendedores com quem conversei, e infinitamente melhor). Inclusive, Mr. Mac, nao sei se se sentindo meio culpado ainda disse: “nega, para o seu uso, o MacBook serve. Nao precisa ser o Pro.” Nao, Mr Mac, nao, nao. Se e pra ter esse treco que seja o Pro do mais baratinho. O que e uma... pra quem ja esta... ne nao? O cartao de credito ta ai pra ter sua fatura dividida mesmo!

Mas minha saga nao tinha acabado nao. Esta semana mesmo lançaram um Pro de 13'' novo, com 2GB a mais de memoria, pelo mesmo valor do antigo. Resolvi comprar, mas para isso teria que esperar uma semana mais ou comprar pela internet, segundo o vendedor da Macstore. Achei esquisita aquela historia de esperar uma semana ja que ali era uma loja oficial da MAC. De qualquer forma, estava decidida a esperar, porque comprar pela internet aqui com cartao de credito brasileiro tem sido uma dor de cabeça, ja que o endereço da fatura e diferente do endereço onde estou morando. O mundo e todo informatizado, mas nenhuma loja virtual se da conta de que a gente nao precisa mais da conta em papel para pagar fatura nenhuma.

Enfim, o fato e que pra esperar eu resolvi aprender um pouco mais sobre esse estranho mundo que estava prestes a entrar, seguindo mais uma vez os conselhos do profeta Mr. Mac: “nega, e melhor voce comprar um livrinho pra aprender a mexer no seu Mac – chama-se Mac for Dummies” (algo como, Mac para idiotas). Que tal? Tudo bem, Mr. Mac, tudo bem... Na livraria vi que ha infinitas formas de ser dummy ao usar um Mac. Resolvi, na medida do meu bolso e necessidade, comprar o Switching to a Mac for Dummies (Mudando para um Mac para idiotas).


Logo no primeiro capitulo o autor desfaz alguns mitos relacionados aos misterios dessa marca para o usuario que esta migrando de um PC para um MAC e conta um pouco da historia da empresa. Comecei a gostar e a entender a grande disputa entre Microsoft e Macintosh. Para alem da questao do lucro, em determinado momento, a historia de ambas as empresas se entrelaçam e foi a partir de um contrato com a Macintosh que Mr. Bill Gates estourou as vendas do Windows 3.0 na decada de 80. Ele usou uma versao simplificada de uma interface grafica que a Microsoft havia criado para a Macintosh. O contrato dizia que a Microsoft estava autorizada a vender a tal interface simplificada. Steve Jobs, a cabeça pensante da Mac nao gostou nem um pouco da jogada de Gates. Ambas as empresas foram parar nos tribunais, mas Gates levou a melhor, porque, segundo o juiz, ele nao descumpriu as clausulas do contrato.

No meio dessa guerrilha de milhoes e milhoes de dolares nos, meros usuarios tupiniquins, ficamos entre um milionario e outro. Antes, eu era uma PCer, agora sou uma MacBooker. O que isso signfica? So o tempo dira...

Ah, ja ia esquecendo de contar o desfecho disso tudo: empolgada com o livrinho, querendo ter logo em maos minha maravilhosa aquisiçao, liguei dois dias depois para a MacStore aqui do Providence Place Mall, perguntando se ja havia chegado o novo modelo do MacBookPro 13”. Sim, havia chegado. Fui na hora la e sai feliz da loja com meu Pro novissimo da Silva. E um Pro abrasileirado, que Steve Jobs nao me ouça. Alias, tomara que ele ouça sim e desenvolva logo uma forma mais tranquila de usar os acentos nisso aqui. O tal Pro acabou sendo o presente de aniversario que me dei a ser pago em modicas prestaçoes. Pra quem nao sabe, faço aniversario sabado que vem, dia 24.

E, gente, devo ter sido mesmo contaminada pelo virus MAC nessa terra aqui. Porque abri meu Pro super ansiosa. Vibrei com a animaçao inicial, com a inscriçao no mundo Mac. Para a fotinho inicial usei batom novo e tudo. Tentei resgata-la para colocar aqui pra voces, mas nao consegui nao.

No fim de tudo Mr. Mac, espirituoso que so ele, ainda escreveu numa rede de relacionamentos: Fabiana Lima, uma nega MACnada. Gostei da frase e do neologismo criado por ele, porque a palavra tem esse nada no final, que acaba por desfazer toda essa empolgaçao por uma mera maquina. Nao, mae, nao, pai, eu nao enlouqueci de vez. Nao ha MacBookPro que substitua uma cheiro no cangote, um pe entrelaçado no outro, um cafune... E disso, eu tenho certeza, ate Mr. Mac sabe. Ah, sabe!

Vejam meu Pro com sua case de macaquinhos coloridos para alegrar meus ultimos dias tao cinzentos!

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Corpo escrito, meu NOME PRÓPRIO


Interessante como a imagem de um corpo (quase sempre feminino) que se abre em livro, deixando-se ler quando quer, há muito me fascina. Inclusive aqui mesmo, por duas ou três vezes sonhei ser livro assim toda tatuada de letras das mais diferentes origens.

Lembro que lá pelos 16 anos, Caetonólotra deslumbrada, era fascinada pela música Elegia do maravilhoso álbum Cinema Transcedental, na verdade uma tradução adaptada do poema Elegia XIX: indo para a cama, de John Donne, feita por Augusto de Campos e Péricles Cavalcanti. A voz suave de Caetano cantando "Como encadernação vistosa/ feita para iletrados a mulher se enfeita/mas ela é um livro místico e somente a alguns a que tal graça se consente é dado lê-la", terminando com a afirmação no mínimo prepotente "Eu sou um que sabe", despertava em mim não sei que arqueológicas memórias abertas em papiro para a palavra manuscrita. (Quem quiser relembrar essa música, pode escutá-la AQUI)

Escrever não deixa de ser isso, colocar a mão nas coisas. Tocar. E os textos se nos dão escritos pela palma afobada de nossas mãos, ou melhor, em tempos de profusão de teclas e @s, pela ponta ansiosa de nossos dedos.

Talvez seja esse o meu prazer mais profundo na relação com a escrita. Poder tocar nas coisas e em cantos de mim que nem sei, mas que se dispõem letrados, muitas vezes, para minha surpresa. Esssa, diríamos, disposição para a letra é ainda bem comum a muitos de nós. Alguns amigos e conhecidos partilham da certeza de que escrever nos salva, até mesmo quando nos leva à perdição.

Foi por isso que gostei quando um queridíssimo casal de amigos me entregou nas mãos o DVD do filme NOME PRÓPRIO (2006), protagonizado pela jovem competentíssima Leandra Leal, dizendo: "Fá, você tem que ver. O filme é você todinha!" Fiquei intrigada. O que um filme moderninho tinha a ver com uma mulher tão fora deste tempo como eu? O que uma personagem que permanece nua grande parte do filme tem a ver com uma mulher que anda tão vestidinha como eu, apesar dos decotes que uso de vez em quando pra me alegrar. O filme fala, em linhas gerais, de uma vida escrita. O cotidiano de Camila conturbado, individualista e em risco de perder os limites é desenhado a partir dos sentidos que a escrita lhe dá. Por isso a personagem blogueira, em um de seus primeiros textos, dá dicas dessa vida que se escoa em letras: "Declaração: Meu blog nao é um diário. Aqui escrevo e ponto. Escrevo porque preciso. Melhor, vivo porque escrevo."

A partir dessa cena, comecei a gostar do filme. E a personagem Camila vai num crescendo se escrevendo em seu primeiro livro. Esse processo se dá em meio a muitos dramas amorosos regados a cerveja, vodka, whisky e muitos remedinhos tarja preta.

O que mais gostei no filme? O barulho das teclas do computador, desatinadas a dar forma aos pensamentos de Camila. A maravilhosa cena, mais já no final do filme em que não basta mais escrever na tela do computador, então a escrita se escoa por milhares de papéis, pelas paredes da sala, pelo chão... A nudez de Camila totalmente em harmonia com um corpo que se dispõe à escrita. Um corpo que foge desses padronizados que vemos aos montes por aí, encenando-se num CORPO ESCRITO. O que menos gostei? O excesso de remedinhos de tarja preta conjugados com bebida. Sou careta mesmo, mas aqui não tem moralismo. Só achei que reproduz uma imagem romântica demais do escritor desesperado, aquele que precisa estar fora do seu estado normal para produzir coisas geniais. Isso me cansa um pouco, porque cá entre nós, nem acredito muito em gênios.

Enfim, o filme é bem legal. Pra quem gosta de escrever, se vê em muitas escritas por aí e ainda se empenha em ser livro, o filme pode ser um bom momento de reflexão e até identificação. Vale a pena assistir. Aqui é possível conferir algumas cenas misturadas do filme, em dois videos onde são selecionadas algumas faces bem características da personagem Camila.