quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

MÚSICA PARA O DIA DE HOJE

Com essa história de mundo virtual, volta e meia agora ganhamos músicas de presente. Desde sempre, demos e recebemos vinis, cds, o objeto em si, mas agora, mandamos diretamente uma única faixa, certeira, para aquele determinado momento. Muito bom!!!!

Só que além de recebermos, podemos nos presentear com belas faixas e vermos vídeos, infinitos vídeos da música que gostamos e que nos dizem muito no meio da situação vivida. Santo YOU TUBE abençoado, amen!

Então, Qurid@s! (nossa, bem que poderiam acrescentar o "@" nessa nova reforma ortográfica, não?!). Diante das últimas turbulências, a baladinha que me consola no momento é esta aí. Força sempre a tod@s! É o meu desejo e o da canção...

domingo, 25 de janeiro de 2009

Uma dama virou estrela no céu



Tia Doca, que seu quintal apinhado de gente do samba continue cantando em Madureira aos domingos. E que você, toda de azul e branco, vá alegrar outros quintais, com aqueles tantos bambas que lá já estão... Um grande beijo

Jilçaria Cruz Costa (1932-2009)



quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Eu me perco de mim...

Como pode? Estou indignada... Tantos livros, meu deus! Mas não tem o essencial. Só agora, depois de dois anos aqui, me dei conta de que ele não está mais perto de mim. Deixei de lê-lo por dois anos seguidos. Hoje me perdi de mim, quando quis encontrar os textos que sempre me disseram fundo e me colocaram em comunhão com uma mineira de Divinópolis (olha o nome dessa cidade que maravilha! Morar na polis do divino, só pode ser coisa para Adélia Prado). Sua Poesia Reunida, minha companheira desde os 18 anos, ficou no RJ. Deve estar em alguma caixa escura no quartinho da casa de minha mãe. Meu livro lilás, encapadinho com um plástico transparente para protegê-lo de meus dedos comilões, que o abriam muitas vezes durante o dia. Como? Como? Tristeza é pouco para o que agora sinto... Estou é meio perdida por não lembrar que com ele achava mundos em mim, mundos dos quais eu nunca participei - cidade pequena, quermesse, casamento de anos com o namorado da janela, mulher com muitos filhos, esgravatar os dentes e pensar na vida a partir de um passarinho - mas onde também eu sou.

Não quero ler poesias dela pelo Google, não quero comprar um Poesia Reunida novinho em folha e até atualizado, já que o meu é bem antiguinho. Não quero! Quero aquelas páginas brancas e enormes, com o meu lápis assinalando uma imagem ou outra, um contentamento qualquer. Quero o meu antigo objeto-livro de Adélia. Meu e dela, tudo junto! Trouxe tantos livros inúteis, mas este, o principal, lá ficou... Agora, só posso, pelo menos, compartilhar com quem me lê três de seus maravilhosos textos. Saboreiem os poemas como se estivessem comendo pudim de leite caramelizado ou o doce com que secretamente se lambuzam. A palavra de Adélia penetra os poros e desata só caos, farta beleza de se comer. Enjoy them!!!!

À MESA

Faca oxidada contra a polpa verde,
é roxo o amor.
De amoras, não.
De dor.

ANTES DO NOME

Não me importa a palavra, esta corriqueira.
Quero é o esplêndido caos de onde emerge a sintaxe,
os sítios escuros onde nasce o "de", o "aliás",
o "o", o "porém" e o "que", esta incompreensível
muleta que me apóia.
Quem entender a linguagem entende Deus
cujo Filho é Verbo. Morre quem entender.
A palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda,
foi inventada para ser calada.
Em momentos de graça, infreqüentíssimos,
se poderá apanhá-la: um peixe vivo com a mão.
Puro susto e terror.

CASAMENTO

Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.

O silêncio de quando nos vimos a primeira vez

atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.

Aaah... estou um pouquinho mais calma! Ao meu desejo frustrado de agora... Darei um jeito prático: mãe é boa e fuça caixas cheias de livros pra gente e os Correios (lamentavelmente cada vez menos usados para trocar cartas de amor...) estão aí pra isso mesmo, né!?

Poesias retiradas do livro Poesia Reunida. Editora Siciliano, 1991.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

COLINHO DE MÃE É BOOOOOOOOOM!!!

Voltar pra casa... Bom, no meu caso, voltar para as casas. Porque ultimamente no RJ, tenho potencialmente 4 casas pra ficar. Só que quando chego em alguma delas, acabo me acostumando e a preguiça não me deixa viver em migração, de casa em casa.

Agora, casa mesmo, dizem, está dentro da gente. Vai ver é por isso a descomunal importância dada pelos psicanalistas àqueles desenhinhos de casa que as crianças tanto fazem, variando o jardim (mais ou menos florido), o céu (com nuvens e sol ou lua ou chovendo), a presença, ausência, boa formação ou deformação de integrantes da família (parte da representação mais adorada e interpretada pelos profissionais da mente).

Como moramos em dois prédios de número 152 na minha infância, era mais ou menos assim que eu desenhava a minha. Era não, é, porque a minha falta de destreza com as linhas, perspectivas e preenchimentos faz com que, mesmo com ajuda tecnológica, minha casa seja até hoje, com pequeníssimas variações, assim representada:


Toda essa enrolação é só pra dizer que reencontrei inesperadamente um de meus íntimos lares quando fui passar o final de ano em família. Devido a contigências da vida, há muito tempo não ia pra lá ficar mais tempo, como fui agora. E foi uma surpresa o reencontro com uma casa que morei durante 1 ano e meio, cuja dona é uma mulher retada, minha mãe. Ali naquele espaço de muitos tempos reunidos num só, tive a oportunidade de reencontrar também Lina Lucia: choramos e rimos, fizemos muita fofoca e sobretudo, tenho certeza, nos fortificamos juntas, mulheres frágeis e fortes que somos, graças a todos os deuses.

Nossa, quando penso em uma única palavra para traduzir o que é minha mãe, só me vem emoção. Para o bem e para o mal, né? Tudo em minha mãe é excessivo e acho que ela fala muito (assim como eu), porque tem muita, muita coisa mesmo dentro dela. De minha mãe aprendi o lúdico... Acho que ninguém teve uma infância mais fantasiosa do que eu e minha irmã. Fazíamos canastrinha e até a ajuda em casa era algo ligado ao mundo da fantasia, porque trabalhávamos em troca de presentes (balinhas, fofoletes, caixinhas, bijouxs e grana mesmo - eu mesma tinha um bolão de notas de 1 cruzeiro, sempre maior que o da minha irmã) para encher nossas caixinhas que ficavam guardadas embaixo da cama. De tempos em tempos, ela, junto com a gente, encapava com diferentes papéis nossas caixas de sapato mágicas, que sempre tinham as tradicionais fivelas de baú, feitas de papel bem dourado. Ao passar pela Av. Brasil, minha mãe nos distraía com a paisagem para não brigarmos, por isso, para mim, o lindo prédio da Fundação Oswaldo Cruz foi até meus 10 anos mais ou menos o castelo da Branca de Neve ou da Cinderela, já que ela ia mudando as histórias. Que tal? Em muitos momentos de nossa passagem da infância para a adolescência foi difícil sair desse mundo imaginário, mas hoje vejo o quanto ele foi importante, pois fez guardar dentro de mim uma menina, sempre encantada com pequenas e grandes coisas que vejo no mundo.

O senso de que todos são iguais, de que não há, em essência, ser humano melhor ou pior também vem dela. Não que ela falasse diretamente, mas dava condições pra gente se defender de quem nos menosprezasse por qualquer motivo (principalmente racial, não posso deixar de dizer) e destruía logo as idéias de que as pessoas eram superiores ou inferiores, pela maneira de se relacionar com os mais diferentes tipos de pessoas. No colégio, muitas vezes intercedi em quiprocós que envolviam discriminação justamente por isso. Lembro de uma vez uma amiga chegar chorando na sala porque um menino a tinha chamado de crioula. Eu, uma fedelha, disse: "Pára de chorar, levanta essa cabeça, você é criola mesmo e qual é problema? Nenhum. Se você mostrar pra ele que não tem medo de ser criola, ele nunca mais vai achar que estará te xingando te chamando disso." Minha amiga ficou me olhando estática, porque, clarinha como era, acho que esperava que a acalmasse, dizendo que era branca.

Da minha mãe devo também uma amplitude de mundo. Uma professora do município do RJ sempre empenhada na educação de seus três filhos não podia restringir a vida educacional à escola. Então fizemos piano, dança (de ballet ao afro, até mesmo meu irmão fez, para susto de seus colegas de rua), natação, inglês (até quando eu fui reprovada e resolvi não voltar mais), canto, e outros cursos. Apesar de não ter seguido nada disso, foram fundamentais, sobretudo para perceber que, para além dos chatos muros da escola, havia um mundo pensante, intenso e muito, muito interessante.

A força de minha mãe para trabalhar na escola e depois em casa está comigo tenho certeza. Sua renda-extra vinha de trabalhos que ela fazia em casa mesmo. Teve a fase dos congelados, depois dos chocolates - nossa, a sala cheia de bombons coloridos dos mais diferentes sabores - das bijouterias (que até hoje ela faz) e milhares de outras coisas que ela vendia para complementar a renda, garantir o sustento da casa e a nossa tão esperada viagem de férias. Quase sempre para Itaparica - terra de meu avô, onde ela nasceu, tendo ficado lá só até os 7 meses.

Acordávamos 4:00 da manhã - ela, eu, minha irmã, meu irmão bem pequeno - fazíamos uma oração de proteção, guardávamos nossa gigante bagagem e íamos. Geralmente, víamos o amanhacer do dia da Ponte Rio-Niterói. Só ela dirigia pelos 1750 Km que separavam o RJ das imediações de Salvador. Durante o trajeto, cantávamos, brigávamos, contávamos piadas, víamos paisagens, porque tudo na estrada era uma história para minha mãe (O Dedo de Deus, o Frade e a Freira, as plantações, a pobreza da região do cacau). Parávamos para dormir e para telefonar para Leli, que, de casa, tal qual um operador de vôo, guiava nossos passos por rodovias brasileiras. Se hoje um dos meus maiores prazeres é pegar estradas, devo a esses janeiros maneiros que nossa mãe nos proporcionava.

Por tudo isso, que durante os tumultuados dias que passei no RJ, tomados por problemas das mais diferentes ordens, estar na alegre casa de minha mãe foi um grande conforto. Tanto que um dia, ao chegar lá, fiquei estática na entrada, olhando emocionada para a sala de paredes amarelas de minha mãe (tal qual os mini-azulejos que davam o tom da casa constantemente amanhecendo de meus avós, em Guadalupe). Ali, embevecida com os milhares de enfeites espalhados por mesinhas e estantes, com a janela branca composta por uma cortina rendada de boneca, que dá um ar de mundo mágico, pensei: "isso tudo aqui, que reúne também várias histórias de mim, me constitui. Pra onde for, levarei todas essas cores e esses milhares de bibelôs". Levarei também, dentre outras milhares de coisas, o maravilhoso gosto da carne assada com recheio de lingüiça que só ela sabe fazer.

No fundo, sempre saquei a casa de minha mãe para me confortar. Em momentos de profunda dor, seja onde estiver, é para aquela colorida sala de badulaques que vou... Lá é, literalmente, o colinho quente dela. Na verdade mesmo, meu verdadeiro lar.

Mamitaaaaaa, te amo!