quinta-feira, 8 de julho de 2010

MEUS TAMBORES ou dançando pra subir


Engraçado, quando meu corpo se sente ameaçado, só me sinto tambor. Não há palavras a serem ditas, só esperar os lutos passarem. Enquanto isso, mexo meu corpo ao som de atabaques pedindo a todos os orixás para tomarem conta de mim e dos meus.

Não sou de dentro nem nada, mas peço licença e escuto os tambores tocar. Meu corpo se mexe mesmo nos lugares mais inadequados. É um pouco dos ombros fazendo gracinha, o pé batendo o ritmo no chão, os braços dobrados se espalhando para os lados, as cadeiras se remexendo, mesmo eu sentada, e até a mão gesticulando tal qual um espelho que reflete a beleza de Oxum. Danço, agradeço tudo não ter sido ainda pior e canto, canto um pouco também algumas palavras que se cravam em mim.

"Lá no Malê-Debalê
Que Ogum fez o seu gongá
É lá que se vai bater pra esse orixá
No toque do Adarrum
O povo vai rodear
Chamando a nação pra ouvir o som Ijexá
Obá-Logum, Oramiã, Ogum-de-Lê
Deixa descer toda falange
Ogum Maiê, Ogum Mejê
Ogum Beira-mar
Me dê licença e permissão para dançar
Ogum Maiê, Ogum Mejê
Ogum Beira-mar
Me dê licença e permissão para dançar"

Sinto uma ínfima felicidade por fazer parte de um povo que canta, toca e dança quando fala com deuses. E agradeço de novo, tudo de bom, ruim e radical que tem acontecido na minha vida ultimamente, porque como disse uma querida prima: "A morte só pode ser para a gente viver melhor".

Esse texto curtinho assim é só mesmo pra dizer que tenho dançado pra subir tudo que não deve ficar por aqui, perto de mim. Tudo que precisava ir embora e se foi, mesmo a contragosto.

Esse texto é tambem um recadinho para o meu pai: "Pai, estou com você! Eu, Adriana e Felipe estamos juntos sempre, principalmente nos piores momentos. Força para seguir o seu caminho. Seus chatos filhos nunca te deixarão só, viu?"

Por fim, queria contar pra vocês que ando em estado de contrição, por isso tenho escutado o som de diferentes ogãs. Nas duas últimas semanas, meu Ipod tem me feito dançar ao som de Rum, Rumpi e Le, como vocês podem acompanhar pelas músicas que seguem





11 comentários:

Camilla Dias Domingues disse...

asè minha querida irmã!
só mesmo pela força dos orixás que conseguiremos abrir nossos caminhos e ter ventos de bonança.
axé da Iansã da pra ti.

PS: adoro a Virginia. rs.

GIL ROSZA disse...

curti tudo! sobretudo, a foto dos tambores! "Quem é ateu e viu milagres como eu, sabe que os deuses sem Deus não cessam de brotar" (Caetano)

ni disse...

taurina, taurina... dança a vida. rosa e verde para acalmar o coração grande, grande. prazer em te ler!

ananita rebouças disse...

É lindo! É lindo o texto, principalmente por conseguir mostrar sua beleza em meio à dor e à tristeza.

Ana Claudia disse...

Fabi, como vai?
Hoje estou bem emocionada aqui em casa sozinha, que foi onde preferi ficar. Mesmo com ofertas de agradáveis e sempre gratas companhias, quis ficar comigo e é tão boa a minha companhia para mim...
Fui a uma consulta com minha mãe e meu pai e está tudo mais calmo agora. Ela está sendo bem cuidada por um médico carinhosinho, atento e isso me faz tranquila. Antes experimentamos um médico antiquado, que dava informações truncadas e nenhuma consideração, o que nos desestabilizou. Não dá pra ficar doente e ainda sem dignidade, isso não. Mas agora tudo tem sido apenas difícil e calmo, como devem ser alguns momentos sem saída, mas cheios de vida. Porque é quando mais perto da morte que ficamos mais cheios de vida, minha querida. Seja o tipo de morte que for. Já vivi mortes diferentes nos meus caminhos e sinto que sei alguma coisa sobre isso, intuo, talvez. Melhor dizendo, não é que eu saiba nem que isso me tira a dor, é qualquer coisa que me faz aceitar e ao mesmo tempo lutar... Melhor ainda: da vida não tenho medo exatamente, mas tenho e sinto com gosto ou raiva a dor que me vier, só não me rendo. No tarô, não é a carta da morte que me assusta, pois com ela vem o renascimento ou novos grãos: "Drão, o amor da gente é como um grão..."
Você aqui fala de morte, de perda, de força, fala de seu pai, fala da dança do nosso povo como uma das formas de chegar aos deuses. É um texto que me diz algo especial sobre o que sinto hoje, por isso escrevo provavelmente muito para um simples comentário. Releve-me por agora.
Esses dias, vi um adesivo de Oxum num carro e me vi rezando ao volante; eu sou etimologicamente crente, sabe: sincrética haha! e não me envergonho desse sincretismo. Dentre outros dois orixás, sou filha de Oxum, aliás, ela é a primeira da lista. Também tenho pedido à Maria que proteja minha mãe. Ando pedindo força a todas as mulheres... E elas respondem! Em matéria de ajudar, nós somos boas, viu. Sem sexismo, mas nosso gênero, quando dá pra ser companheiro, é bom mesmo. Tive e tenho tão boas amigas que não consigo ver apenas a famosa lenda das mulheres inimigas, embora não seja ingênua de negar sua existência. Mas lá vou eu tagarelando e mudando os assuntos, coisa que não é muito comum em mim... é só hoje, só hoje.

No fundo eu só queria dizer que seu texto me cabe como uma luva nesse instante, queria dizer que eu também tenho "encosto de chacrete" (uma comunidade no orkut), queria te apoiar no apoio a seu pai seja por que motivo for, queria dizer que também me orgulho de nossas danças religiosas, eu me orgulho da alegria religiosa, eu estou feliz.

Obrigada por suas palavras, um beijo

Helton Fesan disse...

Asè irmã.

Nestes momentos o mundo é poesia. Não poesia rasa, que bóia na superficie e cala. Mas poesia funda, que nos enraíza no profundo da alma.
Que os encantados (e entre eles os seus ancestrais) te iluminem sempre.

:: Soul Sista :: disse...

Obrigada a todos os recados. Vejo que estou acompanhada por muitos na intenção de dançar para acalmar o coração e poder me comunicar com o encantado. Que os orixás protejam a tod@s nós.

Aninha, Aninha, o quer dizer depois das suas palavras? Querida, você pode escrever o quanto você quiser e sempre serão palavras benditas, ainda mais no momento indescritível que sei que você está passando. Como a morte, seja de ente querido ou de sentimento que precisa ser morto, nos ensina tanto. Além da falta do ente ou do sentimento, é sempre também a constatação da certeza de que somos frágeis, finitos, falíveis e sobretudo humanos.Além disso, Aninha, como você bem disse, quanto mais perto da morte, mais cheias de vida ficamos. Tenho pensado muito em você. Tenho pedido muito por você, por sua mãe e por todos os seus. Aninha, vivemos no mistério. O sentido disso tudo, quem sabe um dia?

Um grande beijo e um apertadíssimo abraço em tod@s

Ilca Angela disse...

Lindo, lindo, lindo, lindo, lindo, lindo, lindo, lindo, lindo, lindo, lindo, lindo, lindo, lindo, lindo, lindo, lindo, lindo, lindo, lindo, lindo!

Ana Claudia disse...

Fabi, minha querida, como vai? Você me mandou um e-mail e ainda respondeu por aqui e só agora te retorno. Não é ausência de alma, é só de corpo rs. Para coisas importantes, cometo o equívoco de adiar, atrás do instante mais apropriado, o momento mágico, blá, blá, blá.
Obrigada pela força, viu. Deus está entre nós. Todos os deuses e deusas devem estar dançando agora :-). Muita paz e muita força e amor para você aí. E obrigada pela lição. Acho que consegui!

JAGUARMAKES disse...

Oi adorei seu blo e me tornei seguidora criamos um blog tmb e participamos do canal no youtube somos amigas la me segue aqqui tmb bjao

Cintia Amorim disse...

Lindo Blog, africanidade pura.
Q Ogum o Senhor dos caminhos cloque só coisas boas no seu.
Bjks, asé!!!