sexta-feira, 26 de junho de 2009

Never can say goodbye


Um misto de farta felicidade e descrédito foi a sensação que senti aos 11 anos, quando ganhei um concurso de dança Michael Jackson, no auge da fama do cantor, com o álbum Thriller, marco da música mundial. Lembro que, no dia da festa do tal concurso, ensaiei incessantemente aquele famoso passinho de deslizar pra trás (Moonwalk), até conseguir fazer o mais próximo do astro negro que achava lindíssimo, aliás, o único no período da minha pré-adolescência. Absurdos à parte, já me identificava com aquele corpo frágil, dançante e com o cabelo relaxado, que também passou a virar febre no Brasil desde meados da década de 80 e eu, claro, acabei também por copiar aqueles cachinhos molhados com muito gel e água mesmo.

Mas no dia do concurso, eu estava com um colorido rabo de cavalo. Como odiava alisar meu cabelo longo, minha mãe era obrigada a inovar nos penteados. Para aquela festa, do meu rabo saiam várias trancinhas presas com mini presilhas coloridas. Um gracinha!!!!! Tenho a impressão de que o penteado também ajudou na vitória. Primeiro ano de Pedro II, festa do Leo. Apesar de ser uma escola pública, era uma das poucas negras da turma e do colégio. Ganhar aquele concurso de dança foi, portanto, uma espécie de popularização da minha imagem para aqueles novos amigos e o mais importante: a certeza de que poderia comprar lanche na hora do recreio, por uma semana.

Foi relembrando essa e outras passagens que recebi a morte de Michael Jackson. Como disse meu amigo Márcio André, independente de se acompanhar ou não o Michael mais recente, sua morte nos traz a infância de volta. Uma memória oscilante, tal qual o mundo emocional do astro, que atua pra frente e pra trás. Daí vêm as lembranças da mais tenra infância, com os Jackson Five, escutado pelo pai e dançado por todos em casa. Uma festa!

Depois, os desencontros. Um Michael cada vez mais branco, cada vez mais perdido, cada vez mais diferente do que parecia ter sido na minha infância e adolescência. Porém, ainda genial, tanto que não se furtou a falar da sua mudança aparente de cor, na canção Black or White: "I'm not going to spend/ My life being a color". De fato ele não se resumiu a ser uma cor, como nunca foi de uma cor só, para o desprezo de brasileiras engajadas racialmente como eu.

Sua Neverland, seu quarto tomado de bichos de pelúcia e outros brinquedos, acusações de pedofilia, máscaras no rosto, nariz cada vez mais afilado, pele sem cor, filho comprado, entre outras excentricidades tornadas públicas. Um artista genial desde os 9, 10 anos de idade, totalmente em desencontro com ele próprio. O Michael que ontem se foi são esses todos e mais aqueles outros que o público não conhecia. Para mim, sua morte faz parte da continuidade do mito, da lenda pop que ele se tornou, com sua voz, suas composições, sua dança, seu carisma. Pessoalmente hoje, da trajetória em desencanto, fico com tudo dos Jackson Five, especialmente a música mais tocante, utilizada belamente em cena de Crooklyn de Spike Lee, Never can say goodbye...

8 comentários:

Andrea Carvalho Stark disse...

O Wilson está repassando esse seu texto... Que lindo! Fiquei emocionada... Tb escrevi nessa mesma linha da infancia à memória! http://agrinalda.blogspot.com Vc deveria colocar uma foto sua de cover do Michael!!! rs eu nunca me atrevi no moowalk, com esse meu corpo duro e sem coordenação!rs BJKASSSS

Wilson disse...

Olha só, minha gente... são tantas "fichas caindo"... vcs imaginam, não é?!

Tô me dando conta de que, a despeito de toda a "falação" em torno da sua (dele) sexualidade, e olhando pr'aquilo que se classifica como o ápice da trajetória artística (Billie Jean, Thriller, We Are The Worl, Black or White) do nosso Michael, só penso numa coisa: o cara sempre foi o astro MAIS FAMÍLIA que eu pude ver e idolatrar... aquele que fazia TODOS sentarem juntos (diante do Fantástico) pra dançar, cantar, saborear, comentar, discutir... aliás, tô achando que só agora entendi a verdadeira dimensão deste sentimento... i-do-la-trar... putz!!!

Obrigadísssssssssimo, Fabi... rs

Lina disse...

Fafá
Suas palavras sobre o incrível Michael, despertando emoções em todos.
Inesquecível Michael!
Bjs

:: Soul Sista :: disse...

Andréa, não tenho foto desse dia de glória, infelizmente! Só tenho as imagens de memória. Reconstrua-as por você mesma - rsrsrsrsrsrs.
Wilson, queridíssimo, que saudades!!!! Rapaz, te digo uma coisa: ele era família, mas despertava um baita sex appeal também, né? Lembra das cuecas douradas bem pequenininhas por cima da calça preta - rsrsrsrsrsrsrsrsrs - O astro sabia instigar a família toda reunida - rsrsrsrsrsrsrsrsrsrs - to gargalhando aqui....
Mamitaaaaaaa, adorei vc sendo minha seguidora agora. Eu nem pedi, né? rsrsrsrsrss

Grande beijo em todos vocês

Anônimo disse...

Oi Fafis,não sabia deste seu feito de dançarina de Michael.Ou vc me escondeu!!!!rsrsrs Sera que o afto de vc ser Negra não ajudou no julgamento dos juizes??Pois existe o esteriótipo do Negro ter que saber sambar e dançar como Michael.rsrs E vc ser uma das poucas Negras na escola pode ter ajudado,ou vc era boa mesmo???rs Sobre Michael,todos dizem que pelo fato de ele ter clareado,renegava a cor.Mas não concordo,vendo que em todos os seus clipes são com Negros,sua banda e equipe tecnica são de Negros.Sua Musa é uma Negra.Onde esta q ele renegue a cor.Quando temos varios Negros na pele,mas que não tem nem consciencia e nem atitudes de Negros.Continue com seu Best Seler e não esqueça que serei o primeiro da fila na noite de autografo.rsrs Bjão PAZ

Ana Claudia disse...

E agora, depois do showlório, quando peço exemplos com verbos de ligação eu só escuto uma molecada de doze, dizendo: "Eu continuo fã do Michael Jackson.

:: Soul Sista :: disse...

rsrsrsrsrsrsrsrs Não é mole, Aninha! Agora estamos na febre de ser fã do astro, concentrando nele todas as angústias de nosss vidas.... Não é mole! Não é mole! A filha do pop star virou ícone de nosso desamparo.... Estamos muito doente, Aninha! Muito!

Beijos

:: Soul Sista :: disse...

Querido Renatito, te enchi o saco pra fazer o comentário aqui e demorei mil anos pra te responder, né? Sabe pq? Pq você duvidou do meu lado dançarida... Como pode? Quando vc me conheceu eu fazia aula de dança, ta? E já fomos inclusive em várias apresentações da dançarina aqui. Vc sabe que eu dançava bem, ta? Ai ai. Ser negra ali foi só um detalhe. E quanto à sua opinião sobre Michael. Concordo plenamente! Só pra relembrar: final do clip de "Black or White", quando ele se transforma em uma pantera negra e quebra, exaltamente e dando gritinhos a la Jackson - rsrsrsrsrsrsrsrsrs - dizeres racistas de toda ordem. O cara era doidão!!!!! Difícil de definir.


Beijão - gostou do tratado? rsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsr