sábado, 20 de março de 2010

Voltando a ver tudo OGUM de novo


E quando você volta a se deslumbrar com o mais simples dos termos, com o mais negro dos símbolos...

AGADÁ DE OGUM é, como diz a voz de Abdias, o Agadá da Transformação

quarta-feira, 3 de março de 2010

Eu... um livro pra Chico - posfácio


Gente querida do meu Brasil! Já vou avisando que ando assim meio abobeada. Mas o fato é que me deu uma vontade de conversar com Chico de novo! A voz dele lendo suas próprias páginas de corpos que são livros criam imagens cruzadas na minha mente. Tenho vontade de ser todas aquelas mulheres-livro. Uma loucura! Pra quem não leu a conversa primeira onde eu me dispunha inteira em livro pra Chico, pode clicar aqui.

Aquela última frase "E eu um livro sem fim" é puro recurso literário. Todo livro tem um final, né gente? E percebemos o final até mesmo antes de ele chegar. Eu pressentia um fim próximo. Um livro já gasto. Muitas páginas do meu corpo aprodrecidas pelo tempo, pela distância e pela falta de amor. Por isso, agora, me despeço de Chico e recolho meu corpo só para os meus escritos mesmo. Isso já basta. E também me preparo para novos livros em cópula que virão. No fim de tudo, além do cansaço, só uma certeza: um dia encontro um escritor só para as minhas páginas. Ah, encontro, né não gente? Por que não sou feia demais, nem rica demais nem burra demais, né não? (Estou aqui gargalhando bem alto, que eu precisava disso). Vamos à conversa.


Pois é, Chico.
Nosso livro chegou ao final.
Meu corpo todo em folhas pra você
Cansou de ser página só para as suas palavras doidas,
Receptáculo de tudo que você crava no mundo.

Diante de tanta coisa dita,
não tinha um espacinho em marrom para as minhas vozes.
Meu corpo vazou nessa estória toda,
se perdendo de mim.
Não reconhecia mais o que eu própria escrevia
Perdida que estava nas suas novelas.

Chico, definitivamente cansei.
Você escrevia em mim, mas não via meu corpo.
Escrevia em mim, mas não via o meu fundo, oferecido em forma de papiro.
Escrevia em mim, mas não tinha tempo de me ler.
Escrevia em mim, mas não via a minha ternura e transbordamento de amor.

Meu corpo pra você era só mais uma página em marrom mesmo
Nenhum diferencial das outras tantas páginas amarronadas onde você escreve
Até a escrita era a mesma pra todas.

E eu, como já disse,
Nasci para ser livro de um homem só.
E espero desse homem-livro, no mínimo
Admiração pelas minhas palavrinhas de nada.

Ninharias, é verdade. Coisa pouca.
Mas minha forma muito particular de cantar nesse mundo.
Minhas palavras - uma melodia só.

E de agora em diante, Chico, sigo sozinha.
Meu corpo é só meu mesmo.
Recolho-me e deixo você fazer o que te dá mais prazer:
Escrever suas linhas em páginas cibernéticas por aí.

Boa sorte, Chico!


Nossa! Não sei por quê, mas escrever esse texto me deu um alívio tão grande. Lady que sou, toda essa conversa substitui muitas palavras feias que me vêm à cabeça. Mas sou chic, sou phyna, né gente! Xingar é bom e tem o momento certo, mas falar por códigos também dá um alívio tão grande! Agora, vou dormir em paz...

Abraços em tod@s!

segunda-feira, 1 de março de 2010

AUDIÊNCIA PÚBLICA SOBRE COTAS - INFORMAÇÃO IMPORTANTE

Car@s, embora não costume reproduzir textos de autoria alheia aqui, a discussão da temática racial na Suprema Corte Federal, impulsionada pela política de cotas da Universidade de Brasília (UNb), merece uma discussão aprofundada e engajamento da população comprometida com a promoção da igualdade racial na sociedade brasileira.

Procurando entender melhor a importância política desse momento, achei um texto simples e direto sobre o assunto em AFROBRASNEWS, também reproduzido no BLOG do Humberto Adami, advogado e atual ouvidor da SEPPIR. Após o texto, disponibilizo alguns sites com propostas de ação para os dias da audiência pública, 3,4 e 5 de março. Vale a pena ler atentamente.

Até breve!

Ações Afirmativas chegam a Suprema Corte

acoesafirmativassite2Os próximos dias 3, 4 e 5 de março serão um marco na história da Suprema Corte brasileira.

Pela primeira vez na história do Brasil o Supremo Tribunal Federal irá realizar uma audiência em torno da temática racial.

A Audiência Pública sobre Políticas de Ação Afirmativa de Reserva de Vagas no Ensino Superior irá definir a constitucionalidade das cotas para negros na Universidade de Brasília (UNB).

Para ampliar o debate em torno do tema, a audiência irá utilizar o procedimento jurídico Amicus Curiae, expressão que em latim significa Amigos da Corte, onde representantes da sociedade civil são ouvidos para opinar sobre o tema em questão.

Utilizada nos Estados Unidos há mais de um século, o dispositivo foi introduzido no jurídico brasileiro a partir da criação da Lei 9.868/1999, que permite que entidades que apresentam relevância para o tema, prestem informações à Suprema Corte. No Brasil, essa é a quinta vez em toda a história em que a medida é adotada.

Para participar da Audiência foram selecionadas 38 entidades de 250 inscritos, sendo que 26 são favoráveis e 12 apresentam opinião contrária ao sistema de cotas adotado pela UNB.

Dentre as entidades selecionadas está a Afrobras - Sociedade Afro-Brasileira de Desenvolvimento Sócio Cultural, entidade do terceiro setor que busca a inclusão dos negros na sociedade através da educação, mantenedora da Faculdade Zumbi dos Palmares, primeira faculdade negra na América Latina. O orador selecionado para representar a instituição, é José Vicente, presidente da Afrobras e reitor da Zumbi dos Palmares. Além do reitor, foram selecionados outros nomes de extrema relevância para o debate tais como: Sueli Carneiro, do Geledés – Instituto da Mulher Negra, Kabengele Munanga do Centro de Estudos Africanos da USP, José Vicente da Afrobras e Sérgio Danilo Pena, autor da pesquisa genética DNA do Brasil, entre outros. Cada representante terá cerca de 15 minutos para se manifestar. (confira aqui a lista de entidades selecionadas)

Para o ouvidor da Secretaria Especial de Promoção de Políticas da Igualdade Racial (Seppir), Humberto Adami, a utilização do Amicus Curiae em uma audiência que trata da temática racial, é um marco do acesso das populações Afrodescendentes junto ao poder judiciário.

“O Ministro Ricardo Lewandowski está de parabéns por ter convocado esta audiência que certamente fará parte da história do Brasil, com a certeza que a ação afirmativa para negros e indígenas sairá vitoriosa desse embate, e o Brasil fortalecido, mais parecido consigo mesmo. É um momento para o qual muitos brasileiros trabalharam", afirma Adami.

A justiça brasileira já revelou parecer favorável as cotas em novembro do ano passado, quando uma decisão do Tribunal Regional do Rio de Janeiro, decidiu manter o sistema de cotas no estado.

Para o professor do departamento de Antropologia e autor da proposta de cotas da UNB, José Jorge de Carvalho, a audiência no Supremo é apenas mais um passo em uma luta que já dura seis anos.

Segundo o professor, a UNB tem sido colocada na Berlinda desde que as cotas foram aprovadas, por que essa foi uma decisão autônoma do conselho da universidade e por ser a única universidade onde o critério das cotas é apenas racial e não está atrelado a nenhum fator sócio-econômico. “As cotas na UNB são uma resposta direta ao racismo”, afirma.

Elizabeth Holmes, vice-presidente sênior de uma das maiores consultorias sobre diversidade no estado americano da Geórgia, a Roosevelt Thomas Consulting and Training, acredita que a adoção de ações afirmativas traz benefícios não apenas para a população negra, mas para a sociedade como um todo, pois através das ações afirmativas a sociedade pode se estruturar melhor e desfrutar dos profissionais qualificados que serão gerados.

“Se os negros compõe 50% da população brasileira, como o país pode se limitar a usar apenas 50% dos seus talentos? No mundo competitivo de hoje essa não é uma boa opção”, afirma Elizabeth.

Pioneirismo na história do Brasil, a interferência da Suprema Corte em casos de Ações Afirmativas é algo que se tornou um marco na luta em favor dos direitos civis nos Estados Unidos. Em 1954, a Suprema Corte americana decidiu tornar inconstitucional a segregação nas escolas do país e com isso os estudantes negros passaram a ter o direito a estudar.

O caso mais famoso foi o dos nove estudantes negros da escola Central High em littlerockninesiteLittle Rock, capital do Arkansas. A superintendente das escolas da cidade, criou um plano de integração gradativa, em uma das principais escolas, onde até então só eram aceitos alunos brancos, o plano tinha início previsto para 1958, mas ainda em 1957 a Associação Nacional para Avanço das Pessoas de Cor (NAACP), já havia matriculado nove estudantes negros, no caso que ficou conhecido como Little Rock Nine, ou os nove de Little Rock.

Recentemente as ações afirmativas voltaram a Suprema Corte norte-americana em dois casos envolvendo a Universidade de Michigan. Nos casos Gratz versus Bollinger, Grutter versus Bollinger, estudantes brancos alegaram ter sido prejudicados pelas políticas de ações afirmativas da Universidade de Michigan e a Suprema Corte realizou uma audiência pública utilizando o Amicos Curiae, para debater sobre a constitucionalidade das cotas na Universidade.

No primeiro caso, a justiça decidiu em favor da estudante e decidiu que o programa de ações afirmativas da universidade era inválido.

No segundo caso, foram ouvidas mais de 150 representantes de diversas entidades da sociedade civil, entre elas ONGs, e representantes das maiores empresas do país como General Motors, Coca Cola e IBM.

Após a audiência, a justiça americana não apenas reafirmou a constitucionalidade das ações afirmativas, mas afirmou que elas representam um benefício para a sociedade americana. Em declaração oficial sobre a decisão do tribunal assinada pela juíza Sandra Day O’Connor, o tribunal decidiu que a adoção das cotas pelas universidades não ferem a constituição daquele país e que as políticas raciais não serão necessárias no futuro e que a diversidade no ensino superior é uma obrigação de interesse governamental.

Para Elizabeth Holmes, a disparidade entre as duas sentenças é um enigma, mas demonstra o quanto a questão das ações afirmativas ainda pode ser um dilema.

Campanha AFIRME-SE - clique aqui
Proposta de vigília durante a audiência pública - clique aqui