domingo, 14 de novembro de 2010
Mulher Possível - Poema para o dia de hoje
Hoje acordei ao som de "Com licença poética" da Adélia. Confesso, chorei, chorei mesmo, mas depois, logo depois eu ri um riso largo. O melhor de tudo foi o início da volta da vontade de escrever. Eu to voltando, Adélia! Quem sabe eu não estou voltando...
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
SENTIMENTO BOM
E vida que segue...
FILOSOFIA REGGAE - Sentimento bom
O sol, a lua e as estrelas
É tudo muito lindo
O som no ar, faz você dançar, bonita melodia
No tom eu canto livremente relaxando a minha mente
A sós no mar podemos viajar
No mar um banho pra comemorar
No mar um banho pra purificar
Um sentimento bom palavra de irmão
Carrego dentro do meu coração
Toda magia e a sintonia e um incenso pra purificar
No tom eu canto livremente relaxando a minha mente
A sós no mar podemos viajar
No mar um banho pra comemorar
No mar um banho pra purificar
quinta-feira, 8 de julho de 2010
MEUS TAMBORES ou dançando pra subir
"Lá no Malê-Debalê
Que Ogum fez o seu gongá
É lá que se vai bater pra esse orixá
No toque do Adarrum
O povo vai rodear
Chamando a nação pra ouvir o som Ijexá
Obá-Logum, Oramiã, Ogum-de-Lê
Deixa descer toda falange
Ogum Maiê, Ogum Mejê
Ogum Beira-mar
Me dê licença e permissão para dançar
Ogum Maiê, Ogum Mejê
Ogum Beira-mar
Me dê licença e permissão para dançar"
sexta-feira, 18 de junho de 2010
A JANELA DA ALMA DE MAGO
Não é que poucos dias depois dessa interessante conversa sobre o autor, recebo a notícia de sua partida. Morreu em casa mesmo, aos 87 anos. Com certeza, foi uma morte tranqüila (se é que isso possível). Dele para mim, além das fulgurantes histórias, ficará a possibilidade de se ser questionador até o fim, de se usar a escrita para construir filosóficas parábolas deste mundo.
Li poucos livros do autor, mas os que li foram num fôlego só, assim sem conseguir parar. Seu poema "Fala do Velho do Restelo ao Astronauta" é magnífico. Ao fazer um fictício personagem de "Os Lusíadas" dar notícias da terra para um real herói do século XX, Saramago brinca com a tradição e mostra, em distanciamento, o que temos feito conosco e com o mundo onde circulamos.
Aqui, na Terra, a fome continua,
A miséria, o luto, e outra vez a fome.
Acendemos cigarros em fogos de napalme
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza,
Ou talvez da pobreza, e da fome outra vez.
E pusemos em ti nem eu sei que desejo
De mais alto que nós, e melhor e mais puro.
No jornal soletramos, de olhos tensos,
Maravilhas de espaço e de vertigem:
Salgados oceanos que circundam
Ilhas mortas de sede, onde não chove.
Mas o mundo, astronauta, é boa mesa
(E as bombas de napalme são brinquedos),
Onde come, brincando, só a fome,
Só a fome, astronauta, só a fome.
Separei do documentário, para mim, a cena mais melancólica, em que ao anoitecer de uma avenida norte-americana, tomada de letreiros e faróis de carro, a voz de Saramago narra um texto em que mostra como as luzes das grandes cidades são cavernas que nos impedem de ver a "verdadeira" luz. Soa platônico? Pode ser, mas o platonismo de Saramago, longe de querer uma ordenada República, deseja mesmo é trabalhar a possbilidade de trazer as luzes à sombra, para que através da inversão possamos achar significados e caminhos novos para a nossa existência. Que vá em paz, nosso querido e lúcido escritor!
Só para avisar, a cena está no minuto final deste trecho do filme. No youtube, vocês podem encontrar outros fragmentos de "Janela da Alma", inclusive uma fala de quase 9 minutos do escritor português.
sábado, 12 de junho de 2010
eu, um hotel atlântico
Ser anti-convencional não é uma escolha, mas uma imposição. A única maneira de ser. Bom, se for uma escolha, é uma escolha à revelia (talvez qualquer escolha seja sempre um pouco isso mesmo). Sei não, viu, gente! Só sei que às vezes canso de pensar e, ainda cansada, continuo pensando. É demais! A obsessão por ver o detrás por detrás das coisas me atropela e quase nem sei pensar objetivamente.
Sou uma desastrada na vida cotidiana. Meu corpo esbarra em tudo, todo mês dou uma topada no pé (daquelas assim de dor de grito e unha quebrada, sabe? No mesmo pé da conhecida cama), perco guarda-chuva enorme dos outros, todo ano começo uma agenda nova, mas quase nunca uso e ainda borro minha unha todinha quando pinto de vermelho. Sem contar que, péssima amiga, não gravo o aniversário de ninguém, só dos familiares próximos, porque aí também, né? Até os dos meus sobrinhos tive que fazer força para memorizar, mas sei que uma é em julho e outro em outubro (ou setembro?). Às vezes nem eu me agüento! Dêem uma olhada no email de uma querida amiga de infânica, que sei que faz aniversário no dia 3 de julho, mas mesmo assim esqueço:
"Babi darling,
Happy Birthday
Muitas felicidades, prosperidade e sorte em seu caminho.
Grande beijo,
ps: Ve se toma vergonha and remember my birthday on July 3 girrrl, after 26
years of friendship.... hahahahahahahaha"
Dessa forma, sempre que sinto que alguém vai se tornar meu amigo pra valer, já vou logo comunicando: "pode contar comigo pra afogar mágoas até de madrugada, mas nunca lembro o aniversário de ninguém. Tem problema?" Assim já é mais prático e as pessoas me avisam antes. Ontem mesmo uma me disse: "Faaa, trate de lembrar do meu aniversário no dia 19 de junho, viu?" Tratei foi de anotar no meu bloquinho de fadas pra nunca mais me esquecer!
Olha só, bloquinho de fadas... Sou aquela do mundo das nuvens... Por isso esse desastre na vida real! Anti-convencional como sou, tenho momentos de profundo recolhimento, tão tão intenso, que sei, às vezes assusto as pessoas. Como da última vez que estive no Rio, minha cidade.
Foi um momento muito difícil de várias indefinições para mim. Não me sentia à vontade em nenhum lugar conhecido. Queria um espaço de trânsito, de passagem, neutro. Foi aí então que decidi ir para um hotel. Me hospedei no último andar desse prédio branco aí em cima, cravado na Rua Gomes Freire. Ali passei meus últimos dias de RJ, como uma estrangeira no meu próprio lugar (se é que tenho algum). A linda vista para a Av. Almirante Barroso e o lugar da hospedaria (cravado nos Arcos da Lapa) foram o que eu precisava para não me perder de vez. Poucas pessoas sabem (sabiam) disso, porque as que souberam, me ofereceram a casa, desculpando-se, como se fossem péssimos amigos por não terem oferecido antes.
Não era nada disso! Tenho poucos, mas queridíssimos amigos. Se quisesse ir pra casa de qualquer um deles, falaria. Não era o caso. Eu precisava mesmo era de um não lugar acessível! Dá pra entender?
Nessa história, sei que magoei muita gente pela minha esquisitice: desde minha mãe, que na época estava com casa nova e arrumou um quarto só porque eu ia chegar, uma grande amiga que morava na mesma rua do hotel e um ex-namorado e amigo de quase 20 anos (contamos outro dia- já estou naquela fase de não dizer mais quantos anos eu tenho, sabe? - rs), que fez um favorzão pra mim e depois eu sumi e, imperdoável, ainda esqueci o aniversário dele um mês depois. Só agora, ele está voltando a conversar e rir comigo de novo via MSN. Ele já até me pediu presentinho daqui! Ainda bem... Sou esquisita, anti-convencional, o escambau, mas uma das coisas que mais me conforta é preservar amizades, mesmo aos trancos e barrancos assim.
Ai, gente! Queria mesmo ter a paciência de esperar a carne assada ficar pronta e, enquanto isso, dar conta das crianças chegando da escola, dar banho, explicar dever de casa, ver televisão com elas, esperar linda o marido chegar, jantar com ele, deixando-o contar em detalhes todas as aventuras do dia. Mas não! Sou mesmo é um hotel, um hotel atlântico, puro mar aberto e profundo. Às vezes até eu mesma me queimo de tanto sal no meu mundo...
E como este foi um post inundado de parêntesis, aí vai mais um, o derradeiro (Pra não dizer que não falei de flores, hoje estou assim tocada, mesmo em terra estranha e sem namorado. Todo casal que vejo, murmuro bem baixinho pra não dar uma de maluca: "Happy Valentine's Day". E no meu Ipod só toca esta canção de Da Matta, porque quero um amor assim, em que "só nós dois sabemos ser príncipes sem um tostão").
Abraço apertadinho em tod@s, principalmente nos meus amig@s que amo de paixão!
segunda-feira, 31 de maio de 2010
Pipa vive mesmo é no céu...
DEUS mandou buscar Seu anjo.
Seja feliz, anjinho Lambari!"
Mãe, um grande beijo! Te amo!
segunda-feira, 24 de maio de 2010
Bora rir um pouquinho?
terça-feira, 18 de maio de 2010
CABELO BOM?
A imagem em artesanato é bem significativa porque não representa uma mulher negra qualquer, como seu vestido nos mostra, mas uma preta genuinamente brasileira. A marca do cabelo ruim tem andado viva na memória de grande parte das mulheres brasileiras, como bem nos mostra essa peça de artesanato e o comentário abaixo, disponível na net, neste endereço aqui, onde se pode encontrar o texto intitulado Cabelo Ruim.
Alguém aqui acha justo nascer com o cabelo de buxa? E não é de bruxa não, é de buxa mesmo! Isso é a coisa mais injusta que pode acontecer com uma pessoa. Porque imagina comigo, você só nasce uma vez na vida e ainda tem que nascer com um cabelo de bombril é demais!
É claro que você não pode colocar a culpa toda na sua mãe porque ela não te fez sozinha, então divide a culpa com o teu pai também! O pior é quando seu irmãozinho querido nasce com o cabelo mais perfeito do mundo e o seu é totalmente o contrario, dá vontade de matar ele né? Só ele não, a familia toda, você culpa até Deus por ter feito você nascer nessa família de cabelos ruins.Mas para a sua sorte Deus é pai e não padrasto! Ele fez o homem inventar os produtos químicos, melhor que isso só nascer com o cabelo lindo. Então agora você pode ser feliz e deixar seu cabelo perfeito, né mágico? Escrevi isso aqui porque fiquei com pena das mulheres de antigamente, as coitadinhas deveriam sofrer muito..
Não, eu não tenho cabelo ruim.
Cabelo não-liso tem sido tabu na sociedade brasileira. Mesmo em tempos de uma dita valorização de culturas afros, o cabelo carapinha é relegado ao silêncio ou visto como monstruoso. No máximo, fala-se de estratégias para escondê-lo, amansá-lo ou, vez por outra, cabelos étnicos são expostos para mostrar quão exóticos são. Por isso, mesmo aquela receita do cabelo "ajeitadinho" não é papo para se ter alto em mesa de bar, principalemente se tiver homem por perto.
Homens negros participam do mesmo processo avassalador quando o assunto é cabelo, mas possuem mais alternativas para se safar, quase sempre escamoteando as contradições que sentem com relação aos seus próprios fios. Dessa forma, eles jogam para debaixo do tapete assunto tão doloroso para tantas brasileiras e brasileiros. Com as mulheres, o buraco é mais embaixo. Rígidos padrões de beleza e uma indústria cosmética que só se volta para o alisamento dos fios não-lisos induzem a um aprendizado pouquíssimo saudável para as meninas negras.
Há muitas gerações nós temos cuidado de nosso cabelo na intimidade do nosso quarto, banheiro ou ao pé do fogão da cozinha, esperando o ferro esquentar, trocando com as mulheres mais próximas da família maneiras de "amansar a fera" e de praguejar contra mais uma triste herança africana. Esse aprendizado é duplamente doloroso, mesmo sem nos darmos conta dele. Por um lado, não há couro cabeludo ou fio que resista às diferentes técnicas de alisamento , já que todas sem exceção causam dor física; por outro, aprendemos a esquecer uma parte importantíssima do nosso corpo, tomada como feia, indomável, sem jeito, com várias marcas de não, pronta para ser esquecida.
Esse esquecimento, como todo esquecimento histórico, é íntimo e comunitário, individual e coletivo. Ninguém quer lembrar o cabelo carapinha que possui. Lembro de algumas cantoras, como Alcione ou Elza Soares, que permearam minha infância com diferentes cabelos em capas de discos, ou mais recentemente Paula Lima, cujos fios o público nunca soube como são. Mesmo que usem cabelos artificiais mais próximos da aparência dos nossos cabelos nunca pudemos contemplar seus fios reais. Interessante que me refiro a mulheres vaidosíssimas, como pode ser visto nas produções esmeradas das três, com direito a unha postiça (Alcione), plásticas mil (Elza) ou requintadas roupas conjugadas a uma linda cabeleira artificial (Paula).
Vou logo dizendo que não distingo as mulheres que amo ou admiro pelo tipo de cabelo que usam. Tenho amigas e familiares queridas com os mais diferentes tipos de cabelo. Só insito que na relação com nossos cachos temos sido intimamente impelidas ao desamor, à raiva, à vergonha. Eu estou aqui hoje escrevendo, no entanto, para expor um pouco o contrário de toda essa história, para contar uma história de amor.
É isso, a relação que tenho há quatro anos com o meu cabelo é de puro amor. A nossa relação amorosa foi conquistada depois de muitos anos de suspensão, das mais diferentes formas. Em fins de 2006, decidi deixar de lado as pesadas fibras de cabelo artificial que usava para compor as minhas tranças. Estava decididamente cansada de tantas agressões ao meu couro cabeludo e aos fios do meu cabelo. Foi umas das medidas mais saudáveis que já tomei na vida.
Hoje, toda vez que me olho no espelho sinto mais do que contentamento ao ver os meus múltiplos micro-cachinhos 3-D. É isso mesmo, nossos canhinhos assim todos juntos têm as três dimensões da tão falada imagem 3-D - altura, largura e profundidade. Abusar da profundidade nos nossos penteados, dando formato mais arredondado, reto, cheio ou rente ao couro cabeludo é uma brincadeira muito saudável que, no mínimo, nos leva a descobrir múltiplas dimensões do nosso próprio rosto. No máximo, nos leva a descobrir recantos há muito escondidos em nossa alma. Esta aí embaixo sou eu e meus amados cachinhos:
Posso ficar até amanhã de manhã escrevendo sobre a gente aqui, digo sobre mim e o meu cabelo - quase nem sei mais se somos um só ou se nos dividimos em dois (às vezes ele sou eu, às vezes ele é um ente que me catalisa). Prefiro, no entanto, começar a apresentar um pouco um documentário que é também uma linda história de amor. Refiro-me ao documentário "Good Hair" dirigido e conduzido pelo ator, humorista, produtor, roteirista, limpador de pára-brisas, ajudante de cozinha ou o que quer que você queira... Chris Rock.
O filme inicia com uma seqüência de imagens de cabelos de negras em filmes antigos de Hollywood e recentes desfiles em disputas entre cabeleleiros que alongam os cabelos das pretas daqui, mas a história de amor começa na fala de abertura do próprio Chris, que é mais ou menos assim: "Minhas duas filhas, Lola e Zora. As mais lindas meninas do mundo. Mesmo eu dizendo todo santo dia que elas são lindas não é o bastante. Ontem mesmo Lola chegou em casa chorando e disse: "papai, como eu faço pra ter cabelo bom?"
Essa é a pergunta clássica que muitas de nós fizemos quando crianças e que nossas filhas, sobrinhas, vizinhas ainda hoje continuam a fazer, lamentando por não possuirem cabelos lisos. Eu me pergunto que padrões são esses que embotam os pensamentos de todas, como bem pudemos ver no comentário feito acima pela caucasiana, mas que principalmente massacra a a auto-confiança de lindas meninas que vemos balançando suas tranças ou seus cachos por aí. Chris, literalmente, fez o documentário como uma espécie de legado amoroso e reflexivo para suas filhas, meninas ultra sortudas, não só pela grana que a família possui, mas principalmente por terem um pai que vira meio mundo para tentar compreender por que não ter cabelo liso angustia tanto suas filhas.
Nessa tentativa de descobrir toda a indústria cosmética que está por trás da busca ansiosa e desesperada pelo cabelo bom, Chris vai a diferentes cidades norte-americanas, entrevista mulheres, conversa com homens, busca entender o comércio de cabelos naturais e de peruca, viaja para Índia. A cruzada de Chris vai desvelando diferentes níveis da questão: o econômico, o social, o racial, o emocional, o psicológico. Enfim, muitas cenas do filme dão insights para pensamentos mil desssa parte do corpo feminimo que tem nos sido tirada, arrancada sem muita explicação.
No fechamento do filme, Chris retoma o laço com as duas meninas e tenta responder o que está para além do conceito cabelo bom: "na tentativa de entender as questões que envolvem o cabelo afro, eu rodei o mundo inteiro... então o que eu vou dizer as minhas filhas? Eu vou dizer que o que está no topo da cabeça delas não é nem de perto mais importante do que o que está dentro."
Eu diria um pouco mais do que ele disse. Diria da importância de tocar o próprio cabelo, da importância de amar cada fio, mesmo com olhares de reprovação. Eu diria que não é preciso alisar o cabelo para dar a ele diferentes looks. Eu diria para elas jamais aceitarem parceiro(a)s que tenham medo de tocar nos seus fios, porque não há carinho mais prazeroso que o cafuné. Sobretudo eu demonstraria, através da minha relação de amor com os meus fios, o quanto é libertador e alegre conhecer as texturas próprias do nosso cabelo e as versatilidades específicas de um cabelo que jamais terá o corte ou o caimento do cabelo escorrido. Pouco importa! O ganho de conhecer intimamente uma parte sonegada de nós é o atrevimento mais saudável que pode nos acontecer.
Sobre esse filme, ainda tenho muito a dizer. Quero falar do depoimento das mulheres (atrizes, intelectuais, cabelereiras, entre outras), das batalhas entre cabeleireiros que acontecem aqui nos EUA, sobre a ida Chris a Índia, sobre os pensamentos que tive vendo o filme, mas, decididamente, neste post não vai dar. Ele já está enorme o suficiente. Fica para o próximo.
Para que vocês sintam o gostinho da maravilhosa aventura de Chris Rock, fiquem com a engraçada e melancólica cena dele tentando vender cabelo afro em lojas que vendem cabelos para implantes, entrelace ou o que quer que seja.
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Meu Deus, Ave Maria!
Hoje no banho me lembrei de antes, muito antes
Me lembrei das delícias num puff de uma sala sem nada
Me lembrei do meu coração na espreita até que eles chegassem
Antes dele… foram muitos
Tudo muito divertido
Me lembrei das danças na sala
Do amor na cozinha, porque tinha gente no quarto
Lembrei do puff macio que afundava
Antes dele eu ri demais
E vivi a luxúria de ter o homem mais bonito do mundo
Me visitando todo dia
“Meu Deus, Ave Maria! Se ele não é um dos seus, ninguém mais seria…”
Antes dele,
Me diverti com amores secretos, com amores artistas, com amores sérios trabalhadores, com justiceiros professores, radicais revolucionários
Brasileiros, estrangeiros…
Foi tanta farta conversa de línguas e corpos,
Amores bonitos de pegar, todos eles.
Quem antes dele?
Cabeleira farta, dreadlocks compridíssimos, cabeça raspada
Malhadão, magrinho que eu tinha medo de amassar, barriguinha saliente,
Vaidoso demais, desleixado, bonito de qualquer jeito…
Nós brincávamos de dia e de noite.
Nomeávamos nossos corpos com nomes engraçados
Ríamos das nossas imperfeições
Antes dele, a sala cheia de velas.
Comida preparada por um que eu queria pra mim vida a fora
E vinho… muito vinho
Antes dele… café com leite docinho e pão na chapa
Na padaria da Santo Amaro
Antes dele… passeio no Leme
Calçadão de Copacabana
Amassos nos mergulhos das águas salgadas por aí
Porre no Posto Nove, briga no Posto Nove, pazes no Posto Nove
Antes dele, amor na sacada de um hotel
Pra matar a saudade de mais um reencontro
Depois de muitos, muitos Mojitos da Casa da Mãe Joana
Meu banho hoje foi demorado, divertido…
Levemente lembrei do antes, bem antes
Várias vezes entreabriu-se o sorriso com aquelas memórias safadas de lembrar
Meu banho hoje, sei não...
Senti meu corpo se preparando
Aqui, a primavera está a toda! É flor por todos os quintais do “ghetto” onde moro.
Verão chegando! Com ele a luminosidade de uma vida na rua, sorrisos, saias curtas, música, dança ao ar-livre e muita, muita azaração!
Não é possível que eu não volte a rir com os amores que virão.
sexta-feira, 30 de abril de 2010
Menina manhosa, menina medrosa
Uma palmada bem dada
É a menina manhosa
que não gosta da rosa,
que não quer a borboleta
porque é amarela e preta,
que não quer maçã nem pêra
porque tem gosto de cera,
que não toma leite,
porque lhe parece azeite,
que mingau não toma,
porque é mesmo goma,
que não almoça nem janta
porque cansa a garganta,
que tem medo do gato,
e também do rato,
e também do cão
e também do ladrão,
que não calça meia
porque dentro tem areia,
que não toma banho frio
porque sente arrepio,
que não toma banho quente
porque calor sente,
que a unha não corta,
porque sempre fica torta,
que não escova os dentes,
porque ficam dormentes,
que não quer dormir cedo,
porque sente imenso medo;
que também tarde não dorme,
porque sente um medo enorme,
que não quer festa nem beijo
nem doce nem queijo...
Ó menina levada,
Quer uma palmada?
Uma palmada bem dada
Para quem não quer nada!
sexta-feira, 16 de abril de 2010
Um nega MACnada, eu?
Contar sobre a minha nova aquisiçao pode ser um bom momento de falar, para os que ainda nao sabem, que ha quase dois meses estou nos EUA, a terra amada e odiada por tantos brasileiros diferentes. Passo alguns meses estudando e conhecendo um pouco melhor essa estranha cultura. Aproveito tambem para mandar noticias a amigos e familiares que querem saber um pouco o que tenho passado aqui. O texto ficou enoooooormeeee, mas os detalhes sao essenciais, voces vao entender. Quem tiver tempo e folego para ler ate o final, aventure-se!
Estrangeira que sou, sinto-me confortavel em nao ser daqui. Pra mim, ser estrangeira e, de alguma forma, olhar tudo com olhos de novo. Isso nao deixa de ser, apesar dos perrengues cotidianos, um certo privilegio. Nao estar numa posicao confortavel com a lingua me coloca ainda mais na esquina disso tudo aqui. Olhar de esguelha, no canto da rua e uma paranoia delirante que definitivamente me atrai.
O cedilha eu aprendi depois de algumas tentativas, mesmo assim ele vem acompanhado de uma letra estranha que eu preciso deletar sempre. Vou mostrar pra voces: quando escrevo “caçador”, aperto simultaneamente tres teclas, mas quando aperto, a palavra vem acompanhada de um caractere estranho que eu preciso apagar para palavra fazer sentido pra gente. Deem uma olhada: “caçædor”. Digam se e possivel eu deixar esse estranho “a” com “e” assim bem juntinho? Se alguem souber o nome desse caractere, pode me dizer, porque nao faço a minima ideia.
As 20:30 em ponto, estava eu de volta a loja de Juan. Como so vi desktops, perguntei: “voce conserta laptop?” Ele, respondeu bem alto com uma certa impaciencia: “OF COURSE!” “Entao, Sr. Juan, meu computador apagou. Acho que e virus, porque isso tem acontecido desde que comecei a usar a rede aberta da universidade.” Ele começou a desmontar o computador todo, passar um aspirador dentro, trocar peças. E eu quase pegando de volta meu pretinho, com medo de nunca mais ve-lo como ele sempre foi. Mas como sempre diz uma grande amiga: nao adianta ter medo, nao adianta ter medo, o que tem que ser e.
Tai o pretinho que morreu!
Sr. Juan, depois de muito testar, disse que o problema nao era virus nada, mas a minha “mother board” que tinha pifado. Me pediu dois dias pra confirmar e me dizer o valor do conserto. Achei justo, mas fiquei meio chocada pelo problema ser tao serio. Gente, achava meu computador novo. Dois anos de uso so. Sai da loja assim tao tristinha, que liguei para Mr. Mac pra ver se ele me dava uma força, depois de eu ter perdido de maneira tao tragica meu pretinho basico. Mr. Mac, ironico como sempre: “eu falei, nega, eu falei... Seu computador tava na capinha.” O que me restava entao? Ir pra cama chorar baixinho.
Enfim, o fato e que pra esperar eu resolvi aprender um pouco mais sobre esse estranho mundo que estava prestes a entrar, seguindo mais uma vez os conselhos do profeta Mr. Mac: “nega, e melhor voce comprar um livrinho pra aprender a mexer no seu Mac – chama-se Mac for Dummies” (algo como, Mac para idiotas). Que tal? Tudo bem, Mr. Mac, tudo bem... Na livraria vi que ha infinitas formas de ser dummy ao usar um Mac. Resolvi, na medida do meu bolso e necessidade, comprar o Switching to a Mac for Dummies (Mudando para um Mac para idiotas).
Logo no primeiro capitulo o autor desfaz alguns mitos relacionados aos misterios dessa marca para o usuario que esta migrando de um PC para um MAC e conta um pouco da historia da empresa. Comecei a gostar e a entender a grande disputa entre Microsoft e Macintosh. Para alem da questao do lucro, em determinado momento, a historia de ambas as empresas se entrelaçam e foi a partir de um contrato com a Macintosh que Mr. Bill Gates estourou as vendas do Windows 3.0 na decada de 80. Ele usou uma versao simplificada de uma interface grafica que a Microsoft havia criado para a Macintosh. O contrato dizia que a Microsoft estava autorizada a vender a tal interface simplificada. Steve Jobs, a cabeça pensante da Mac nao gostou nem um pouco da jogada de Gates. Ambas as empresas foram parar nos tribunais, mas Gates levou a melhor, porque, segundo o juiz, ele nao descumpriu as clausulas do contrato.
No fim de tudo Mr. Mac, espirituoso que so ele, ainda escreveu numa rede de relacionamentos: Fabiana Lima, uma nega MACnada. Gostei da frase e do neologismo criado por ele, porque a palavra tem esse nada no final, que acaba por desfazer toda essa empolgaçao por uma mera maquina. Nao, mae, nao, pai, eu nao enlouqueci de vez. Nao ha MacBookPro que substitua uma cheiro no cangote, um pe entrelaçado no outro, um cafune... E disso, eu tenho certeza, ate Mr. Mac sabe. Ah, sabe!
quinta-feira, 1 de abril de 2010
Corpo escrito, meu NOME PRÓPRIO
Lembro que lá pelos 16 anos, Caetonólotra deslumbrada, era fascinada pela música Elegia do maravilhoso álbum Cinema Transcedental, na verdade uma tradução adaptada do poema Elegia XIX: indo para a cama, de John Donne, feita por Augusto de Campos e Péricles Cavalcanti. A voz suave de Caetano cantando "Como encadernação vistosa/ feita para iletrados a mulher se enfeita/mas ela é um livro místico e somente a alguns a que tal graça se consente é dado lê-la", terminando com a afirmação no mínimo prepotente "Eu sou um que sabe", despertava em mim não sei que arqueológicas memórias abertas em papiro para a palavra manuscrita. (Quem quiser relembrar essa música, pode escutá-la AQUI)
Escrever não deixa de ser isso, colocar a mão nas coisas. Tocar. E os textos se nos dão escritos pela palma afobada de nossas mãos, ou melhor, em tempos de profusão de teclas e @s, pela ponta ansiosa de nossos dedos.
Foi por isso que gostei quando um queridíssimo casal de amigos me entregou nas mãos o DVD do filme NOME PRÓPRIO (2006), protagonizado pela jovem competentíssima Leandra Leal, dizendo: "Fá, você tem que ver. O filme é você todinha!" Fiquei intrigada. O que um filme moderninho tinha a ver com uma mulher tão fora deste tempo como eu? O que uma personagem que permanece nua grande parte do filme tem a ver com uma mulher que anda tão vestidinha como eu, apesar dos decotes que uso de vez em quando pra me alegrar. O filme fala, em linhas gerais, de uma vida escrita. O cotidiano de Camila conturbado, individualista e em risco de perder os limites é desenhado a partir dos sentidos que a escrita lhe dá. Por isso a personagem blogueira, em um de seus primeiros textos, dá dicas dessa vida que se escoa em letras: "Declaração: Meu blog nao é um diário. Aqui escrevo e ponto. Escrevo porque preciso. Melhor, vivo porque escrevo."
A partir dessa cena, comecei a gostar do filme. E a personagem Camila vai num crescendo se escrevendo em seu primeiro livro. Esse processo se dá em meio a muitos dramas amorosos regados a cerveja, vodka, whisky e muitos remedinhos tarja preta.
O que mais gostei no filme? O barulho das teclas do computador, desatinadas a dar forma aos pensamentos de Camila. A maravilhosa cena, mais já no final do filme em que não basta mais escrever na tela do computador, então a escrita se escoa por milhares de papéis, pelas paredes da sala, pelo chão... A nudez de Camila totalmente em harmonia com um corpo que se dispõe à escrita. Um corpo que foge desses padronizados que vemos aos montes por aí, encenando-se num CORPO ESCRITO. O que menos gostei? O excesso de remedinhos de tarja preta conjugados com bebida. Sou careta mesmo, mas aqui não tem moralismo. Só achei que reproduz uma imagem romântica demais do escritor desesperado, aquele que precisa estar fora do seu estado normal para produzir coisas geniais. Isso me cansa um pouco, porque cá entre nós, nem acredito muito em gênios.
Enfim, o filme é bem legal. Pra quem gosta de escrever, se vê em muitas escritas por aí e ainda se empenha em ser livro, o filme pode ser um bom momento de reflexão e até identificação. Vale a pena assistir. Aqui é possível conferir algumas cenas misturadas do filme, em dois videos onde são selecionadas algumas faces bem características da personagem Camila.
sábado, 20 de março de 2010
Voltando a ver tudo OGUM de novo
quarta-feira, 3 de março de 2010
Eu... um livro pra Chico - posfácio
Aquela última frase "E eu um livro sem fim" é puro recurso literário. Todo livro tem um final, né gente? E percebemos o final até mesmo antes de ele chegar. Eu pressentia um fim próximo. Um livro já gasto. Muitas páginas do meu corpo aprodrecidas pelo tempo, pela distância e pela falta de amor. Por isso, agora, me despeço de Chico e recolho meu corpo só para os meus escritos mesmo. Isso já basta. E também me preparo para novos livros em cópula que virão. No fim de tudo, além do cansaço, só uma certeza: um dia encontro um escritor só para as minhas páginas. Ah, encontro, né não gente? Por que não sou feia demais, nem rica demais nem burra demais, né não? (Estou aqui gargalhando bem alto, que eu precisava disso). Vamos à conversa.
Pois é, Chico.
Nosso livro chegou ao final.
Meu corpo todo em folhas pra você
Cansou de ser página só para as suas palavras doidas,
Receptáculo de tudo que você crava no mundo.
Diante de tanta coisa dita,
não tinha um espacinho em marrom para as minhas vozes.
Meu corpo vazou nessa estória toda,
se perdendo de mim.
Não reconhecia mais o que eu própria escrevia
Perdida que estava nas suas novelas.
Chico, definitivamente cansei.
Você escrevia em mim, mas não via meu corpo.
Escrevia em mim, mas não via o meu fundo, oferecido em forma de papiro.
Escrevia em mim, mas não tinha tempo de me ler.
Escrevia em mim, mas não via a minha ternura e transbordamento de amor.
Meu corpo pra você era só mais uma página em marrom mesmo
Nenhum diferencial das outras tantas páginas amarronadas onde você escreve
Até a escrita era a mesma pra todas.
E eu, como já disse,
Nasci para ser livro de um homem só.
E espero desse homem-livro, no mínimo
Admiração pelas minhas palavrinhas de nada.
Ninharias, é verdade. Coisa pouca.
Mas minha forma muito particular de cantar nesse mundo.
Minhas palavras - uma melodia só.
E de agora em diante, Chico, sigo sozinha.
Meu corpo é só meu mesmo.
Recolho-me e deixo você fazer o que te dá mais prazer:
Escrever suas linhas em páginas cibernéticas por aí.
Boa sorte, Chico!
Abraços em tod@s!
segunda-feira, 1 de março de 2010
AUDIÊNCIA PÚBLICA SOBRE COTAS - INFORMAÇÃO IMPORTANTE
Car@s, embora não costume reproduzir textos de autoria alheia aqui, a discussão da temática racial na Suprema Corte Federal, impulsionada pela política de cotas da Universidade de Brasília (UNb), merece uma discussão aprofundada e engajamento da população comprometida com a promoção da igualdade racial na sociedade brasileira.
Procurando entender melhor a importância política desse momento, achei um texto simples e direto sobre o assunto em AFROBRASNEWS, também reproduzido no BLOG do Humberto Adami, advogado e atual ouvidor da SEPPIR. Após o texto, disponibilizo alguns sites com propostas de ação para os dias da audiência pública, 3,4 e 5 de março. Vale a pena ler atentamente.
Até breve!
Os próximos dias 3, 4 e 5 de março serão um marco na história da Suprema Corte brasileira.
Pela primeira vez na história do Brasil o Supremo Tribunal Federal irá realizar uma audiência em torno da temática racial.
A Audiência Pública sobre Políticas de Ação Afirmativa de Reserva de Vagas no Ensino Superior irá definir a constitucionalidade das cotas para negros na Universidade de Brasília (UNB).
Para ampliar o debate em torno do tema, a audiência irá utilizar o procedimento jurídico Amicus Curiae, expressão que em latim significa Amigos da Corte, onde representantes da sociedade civil são ouvidos para opinar sobre o tema em questão.
Utilizada nos Estados Unidos há mais de um século, o dispositivo foi introduzido no jurídico brasileiro a partir da criação da Lei 9.868/1999, que permite que entidades que apresentam relevância para o tema, prestem informações à Suprema Corte. No Brasil, essa é a quinta vez em toda a história em que a medida é adotada.
Para participar da Audiência foram selecionadas 38 entidades de 250 inscritos, sendo que 26 são favoráveis e 12 apresentam opinião contrária ao sistema de cotas adotado pela UNB.
Dentre as entidades selecionadas está a Afrobras - Sociedade Afro-Brasileira de Desenvolvimento Sócio Cultural, entidade do terceiro setor que busca a inclusão dos negros na sociedade através da educação, mantenedora da Faculdade Zumbi dos Palmares, primeira faculdade negra na América Latina. O orador selecionado para representar a instituição, é José Vicente, presidente da Afrobras e reitor da Zumbi dos Palmares. Além do reitor, foram selecionados outros nomes de extrema relevância para o debate tais como: Sueli Carneiro, do Geledés – Instituto da Mulher Negra, Kabengele Munanga do Centro de Estudos Africanos da USP, José Vicente da Afrobras e Sérgio Danilo Pena, autor da pesquisa genética DNA do Brasil, entre outros. Cada representante terá cerca de 15 minutos para se manifestar. (confira aqui a lista de entidades selecionadas)
Para o ouvidor da Secretaria Especial de Promoção de Políticas da Igualdade Racial (Seppir), Humberto Adami, a utilização do Amicus Curiae em uma audiência que trata da temática racial, é um marco do acesso das populações Afrodescendentes junto ao poder judiciário.
“O Ministro Ricardo Lewandowski está de parabéns por ter convocado esta audiência que certamente fará parte da história do Brasil, com a certeza que a ação afirmativa para negros e indígenas sairá vitoriosa desse embate, e o Brasil fortalecido, mais parecido consigo mesmo. É um momento para o qual muitos brasileiros trabalharam", afirma Adami.
A justiça brasileira já revelou parecer favorável as cotas em novembro do ano passado, quando uma decisão do Tribunal Regional do Rio de Janeiro, decidiu manter o sistema de cotas no estado.
Para o professor do departamento de Antropologia e autor da proposta de cotas da UNB, José Jorge de Carvalho, a audiência no Supremo é apenas mais um passo em uma luta que já dura seis anos.
Segundo o professor, a UNB tem sido colocada na Berlinda desde que as cotas foram aprovadas, por que essa foi uma decisão autônoma do conselho da universidade e por ser a única universidade onde o critério das cotas é apenas racial e não está atrelado a nenhum fator sócio-econômico. “As cotas na UNB são uma resposta direta ao racismo”, afirma.
Elizabeth Holmes, vice-presidente sênior de uma das maiores consultorias sobre diversidade no estado americano da Geórgia, a Roosevelt Thomas Consulting and Training, acredita que a adoção de ações afirmativas traz benefícios não apenas para a população negra, mas para a sociedade como um todo, pois através das ações afirmativas a sociedade pode se estruturar melhor e desfrutar dos profissionais qualificados que serão gerados.
“Se os negros compõe 50% da população brasileira, como o país pode se limitar a usar apenas 50% dos seus talentos? No mundo competitivo de hoje essa não é uma boa opção”, afirma Elizabeth.
Pioneirismo na história do Brasil, a interferência da Suprema Corte em casos de Ações Afirmativas é algo que se tornou um marco na luta em favor dos direitos civis nos Estados Unidos. Em 1954, a Suprema Corte americana decidiu tornar inconstitucional a segregação nas escolas do país e com isso os estudantes negros passaram a ter o direito a estudar.
O caso mais famoso foi o dos nove estudantes negros da escola Central High em Little Rock, capital do Arkansas. A superintendente das escolas da cidade, criou um plano de integração gradativa, em uma das principais escolas, onde até então só eram aceitos alunos brancos, o plano tinha início previsto para 1958, mas ainda em 1957 a Associação Nacional para Avanço das Pessoas de Cor (NAACP), já havia matriculado nove estudantes negros, no caso que ficou conhecido como Little Rock Nine, ou os nove de Little Rock.
Recentemente as ações afirmativas voltaram a Suprema Corte norte-americana em dois casos envolvendo a Universidade de Michigan. Nos casos Gratz versus Bollinger, Grutter versus Bollinger, estudantes brancos alegaram ter sido prejudicados pelas políticas de ações afirmativas da Universidade de Michigan e a Suprema Corte realizou uma audiência pública utilizando o Amicos Curiae, para debater sobre a constitucionalidade das cotas na Universidade.
No primeiro caso, a justiça decidiu em favor da estudante e decidiu que o programa de ações afirmativas da universidade era inválido.
No segundo caso, foram ouvidas mais de 150 representantes de diversas entidades da sociedade civil, entre elas ONGs, e representantes das maiores empresas do país como General Motors, Coca Cola e IBM.
Após a audiência, a justiça americana não apenas reafirmou a constitucionalidade das ações afirmativas, mas afirmou que elas representam um benefício para a sociedade americana. Em declaração oficial sobre a decisão do tribunal assinada pela juíza Sandra Day O’Connor, o tribunal decidiu que a adoção das cotas pelas universidades não ferem a constituição daquele país e que as políticas raciais não serão necessárias no futuro e que a diversidade no ensino superior é uma obrigação de interesse governamental.