terça-feira, 6 de outubro de 2009

Eu... um livro pra Chico



Chico, minhas nádegas não são rosadas
Muito pelo contrário
Mas não há pele que reluza mais as letras do que a minha
Teresa sou, a última...
Dispo meu corpo e olho refletido no espelho
Um livro inteiro em mim

A primeira T., amada demais
Pura Perdição
Ela não sabe mesmo ler o livro em si

As putas, desalinho,
Nem Teresas são
Mero simulacro

As Teresas estudantes, afobadas demais
Não se deixam admirar, oferecidinhas
O livro com elas não ganha tino nem ritmo

Meu ritmo, na medida exata
Sou eu, Chico, teu livro
Nasci e já sabia
Queria ser livro
Ser livro para um homem só

Por isso deito ao teu lado na cama
E te deixo escrever em mim
Cuido de ti, das tuas letras
E calma, raspo a cabeça
depois que tudo é só tanto de letra em meu corpo
Ali, você pode findar o texto
Ou até mesmo assumi-lo infinito

Eu, Chico, um livro semi-aberto por decifrar
De trás pra adiante, de adiante pra trás

Só eu no mundo para ler teus escritos, mais ninguém
Por isso eu te ensino
E ofereço meu corpo em papiro

Dias e noites... orgias de escrita
Depois da água bebida
A minha, branca, a tua, transparente
Continuaremos grafias em nossos corpos
Profusão de letras
E eu, um livro
Sem fim...

sábado, 3 de outubro de 2009

Nei Lopes premiado


Acabei de saber por email que Nei Lopes ganhou o Prêmio Jabuti, na categoria "livros didáticos e paradidáticos". O feito é digno de nota porque o assunto é dos mais pertinentes ao ensino formal do Brasil contemporâneo. Utilizando palavras do próprio Nei, sua História e cultura africana e afro-brasileira, editada pela Barsa Planeta em 2008, trata da "mestiçagem cenográfica", que tem sido encenada e re-encenada em nosso país. O tema está na moda, mas pessoas competentes para desenvolvê-lo são raras. Nei Lopes, de fato, tem autoridade para abordar criticamente o assunto. Certamente, este livro será uma das minhas próximas leituras!

Um dos maiores eruditos em história da cultura afro-brasileira, o cantor, compositor, sambista e, como ele bem gosta de enfatizar, escritor Lopes, devido à vida e currículo dedicados a lutar intelectualmente contra o racismo, já deveria ter sido agraciado com muitos outros prêmios editoriais, diga-se de passagem! Por ora, deliciemo-nos com a palavra sempre bem-humorada, inteligente e crítica do seu Lote aqui na rede e festejemos com ele o fato de ter entrado no Jabuti, como ele mesmo disse, pela porta do livro didático!

Que essa premiação signifique também o largo uso do seu livro nas salas de aula!